Aprendizado da leitura: um dos maiores prazeres da minha vida.
Ou pelas condições em que se realizou - lições dadas por um Pai afectuoso - ou porque a receptividade da minha mente infantil fosse extremamente favorável a esse exercício, aquilo que para alguns dos meus pequenos condiscípulos (iria verificá-lo depois na Escola) constituía tarefa árdua e morosa, por isso aborrecida, às vezes dolorosa e outras até abandonada, para mim se englobou na felicidade exultante e exaltante das descobertas feitas dia a dia sobre o mundo e a vida.
in Memórias da Escola Antiga (1981) de Natália Nunes
Há muito tempo que não lia um livro assim, em que um autor escreve sobre a sua infância, com ingenuidade e simplicidade que, de tão bonitas, deixa em nós um forte desejo de a ela voltar.
Nas primeiras páginas há um prefácio delicioso de Mário Sacramento sobre este livro:
Gosto deste livro. Porquê? Eis para o que serve um prefácio: para amarmos menos - mediante a abstracção que preceitua - o que era directo na adesão simbólica.
Explicar um gosto é desgostarmo-nos dele distanciando-o. Corre nestas páginas uma linfa pura: a alvorada de uma grande escritora, fiat impessoal de uma memória encantada cujo estilo é mimese da criança que foi. Poema pré-homérico. Ou literatura que não sabe ainda que o é.
Excerto de Prefácio por Mário Sacramento
in Horas Vivas: Memórias da Minha Infância de Natália Nunes