É da obra de arte - sempre foi, ainda quando o termo «contradição», no sentido marxista, não existia - o revelar das contradições, propondo ou não, na sua estrutura, uma resolução estética, ou um exacerbamento dos contrários.
Excerto da entrevista Abril, Lisboa, n.º 3 Abril de 1978 por João Lopes e José Camacho Costa
in Entrevistas 1958-1978, edição de Mécia de Sena e Jorge Fazenda Lourenço
Aprender a ler, para mim estava na mesma ordem de actividades que, por exemplo, a observação do corpo de um insecto ou o assistir a uma cerimónia religiosa.
À medida que progredia e me via capaz de decifrar as grafias, o sentimento acompanhante desse progresso era o de uma imensa alegria e o de uma vitória. Quando cheguei ao ponto de «Ó Pedro, que é do livro de capa verde?«, a essa empolgância acrescentou-se mais a de um ter e de um poder: eu tinha na minha pessoa o ser capaz de ler o mesmo jornal que o meu Pai, o poder de ler agora todos os livros que quisesse.
in Memórias da Escola Antiga (1981) de Natália Nunes