Nos finais dos anos trinta, as raparigas não andavam de pernas nuas
[O liceu, o Maria Amália, tinha fama de ser extremamente repressivo] Não podemos esquecer que estávamos em pleno Estado Novo. A directora, a doutora Maria Guardiola, era uma personalidade extraordinária.
Comparando com o que se passa hoje nos liceus, as pessoas diriam que a disciplina no Maria Amália era pior do que a dos conventos. Não era. Quero dizer que apreciava a disciplina mas sem amordaçar a minha rebelião.
Nos finais dos anos trinta, as raparigas não andavam de pernas nuas. Em adolescentes, usavam meias até aos joelhos e depois meias compridas. Eu comecei a pôr «baton» e «rouge» aos treze anos e nunca deixei, mesmo quando era proibido, de ir maquilhada para o liceu.
Se um homem transpusesse o segundo portão da entrada, era o pânico. Ainda me lembro de o pai de uma aluna o ter feito. Foi tal o pandemónio que meteu até o chefe do pessoal menor. Apenas o carpinteiro do liceu podia ultrapassar a barreira do segundo portão.
Natália Nunes in Entrevista Expresso