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Livrologia

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26
Mai23

Os alunos da escola antiga e os alunos da escola moderna

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A propósito da leitura de Memórias da Escola Antiga de Natália Nunes, em que serão os alunos da escola antiga diferentes dos alunos da escola moderna?

Passei pela escola primária durante os anos 80 e ainda vivi os resquícios da escola antiga, com mais "benevolência", é certo, mas ainda assim passei pelas mesmas reguadas que doíam nas mãos, pelos mesmos castigos devidos aos meus erros a matemática, pelo mesmo silêncio pesado na sala de aula, pela mesma postura recta e exacta que me eram exigidas, pelo mesmo respeito servil que restringia as perguntas que queria fazer e não podia.

Os meus pais viveram os seus dias de escola antiga nos anos 50, onde lhes era recusada a benevolência, a liberdade de expressão, a espontaneidade.

Contam eles que aprender era um privilégio, considerando os níveis de analfabetismo da década de 40. Aliás, o programa de ensino continha conteúdos básicos como a leitura, a escrita, aritmética e geografia básica, e o ensino estava mais focado em competências práticas que pudessem ser aplicadas no dia-a-dia.

Os métodos de ensino eram tradicionais e formais, com memorização e recitação, todos aprendiam através da repetição, copiando informação dos livros ou do quadro, o que não os deixou esquecer os nomes de rios, a tabuada e outros temas que ainda hoje sabem de memória. Os recursos eram limitados, não havia muitos livros, nem materiais escolares.

A disciplina era restrita, focada no respeito pela autoridade e pelas regras que deveriam ser seguidas à risca.

Os dias de escola eram longos e a falta de assiduidade não era muito tolerada, apesar de muitos alunos terem de percorrer grandes distâncias a pé e até trabalharem ao lado dos pais no campo ou em outras actividades domésticas.

A grande contradição reside no facto de, olhando para trás os alunos quererem tanto aprender e muitas vezes não podiam, comparando com todos os recursos que os alunos de hoje têm e desperdiçam.

26
Mai23

As mãos paralisadas deixavam cair molemente o giz e o apagador

Tristes as cenas em que a aluna, diante da pedra, o pau de giz na mão direita e o apagador na esquerda - numa chamada de Matemática, por exemplo - ficava paralisada a meio de terrível equação, sem conseguir progredir ao longo dos termos que conduziriam à solução. Virada de costas para a classe, o rosto fixo no quadro negro, os segundos a escoarem-se, e depois a voz da professora, entre paciente e irónica, repisadora: «Então? Vamos...»

De súbito, num agastamento nítido ou em desânimo aborrecido: «Pode-se sentar!»

As mãos paralisadas deixavam cair molemente o giz e o apagador no rebordo do quadro, e a paciente? ou a vítima? ou a culpada? regressava ao lugar na carteira, umas vezes lavada em lágrimas, outras conturbada, afogueada, a arrastar os pés ou, pelo contrário, a bater com eles no chão violentamente, num protesto contra a professora, a matemática ou a gramática, o liceu, os adultos.

in Memórias da Escola Antiga (1981) de Natália Nunes

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