Publicado em 1917 e vencedor do Pulitzer em 1918, His Family de Ernest Poole foca-se nas mudanças que ocorrem numa família americana entre 1880 e 1910, à medida que enfrentam os novos desafios da modernidade e as radicais mudanças sociais.
Foi considerado um dos primeiros romances realistas americanos a retratar a vida da classe média alta em Nova York, e foi elogiado pela crítica pela sua capacidade de mostrar o impacto da industrialização e da urbanização no dia-a-dia das pessoas.
Se é uma obra extraordinária? Não.
Considerando o contexto histórico em que foi publicado e apesar de ter sido inovador ao explorar as tensões entre a tradição e a modernidade através do olhar das suas personagens, não me convenceu.
Umas das particularidades que mais me irritou neste livro é que tudo tem de ter um significado, tudo está fortemente focado nas ideias que o autor quer transmitir, tudo tem de ser repetido uma e outra vez até à exaustão. Muitas vezes fechei o livro, porque já não conseguia ler mais sobre esta imposição ideológica da vida, do progresso ou da família.
Chegou a ser bizarro estar a ler um livro aclamado por reflectir sobre as tensões sociais e culturais da época, quando na realidade senti que esta reflexão era mais um meio de instruir o leitor a seguir uma determinada ideologia.
And it came to his mind that New York was like that—no settled calm abiding place cherishing its memories, but only a town of transition, a great turbulent city of change, restlessly shaking off its past, tearing down and building anew, building higher, higher, higher, rearing to the very stars, and shouting, "Can you see me now?" What was the goal of this mad career? What dazzling city would be here?
A propósito da leitura de Memórias da Escola Antiga de Natália Nunes, em que serão os alunos da escola antiga diferentes dos alunos da escola moderna?
Passei pela escola primária durante os anos 80 e ainda vivi os resquícios da escola antiga, com mais "benevolência", é certo, mas ainda assim passei pelas mesmas reguadas que doíam nas mãos, pelos mesmos castigos devidos aos meus erros a matemática, pelo mesmo silêncio pesado na sala de aula, pela mesma postura recta e exacta que me eram exigidas, pelo mesmo respeito servil que restringia as perguntas que queria fazer e não podia.
Os meus pais viveram os seus dias de escola antiga nos anos 50, onde lhes era recusada a benevolência, a liberdade de expressão, a espontaneidade.
Contam eles que aprender era um privilégio, considerando os níveis de analfabetismo da década de 40. Aliás, o programa de ensino continha conteúdos básicos como a leitura, a escrita, aritmética e geografia básica, e o ensino estava mais focado em competências práticas que pudessem ser aplicadas no dia-a-dia.
Os métodos de ensino eram tradicionais e formais, com memorização e recitação, todos aprendiam através da repetição, copiando informação dos livros ou do quadro, o que não os deixou esquecer os nomes de rios, a tabuada e outros temas que ainda hoje sabem de memória. Os recursos eram limitados, não havia muitos livros, nem materiais escolares.
A disciplina era restrita, focada no respeito pela autoridade e pelas regras que deveriam ser seguidas à risca.
Os dias de escola eram longos e a falta de assiduidade não era muito tolerada, apesar de muitos alunos terem de percorrer grandes distâncias a pé e até trabalharem ao lado dos pais no campo ou em outras actividades domésticas.
A grande contradição reside no facto de, olhando para trás os alunos quererem tanto aprender e muitas vezes não podiam, comparando com todos os recursos que os alunos de hoje têm e desperdiçam.
Tristes as cenas em que a aluna, diante da pedra, o pau de giz na mão direita e o apagador na esquerda - numa chamada de Matemática, por exemplo - ficava paralisada a meio de terrível equação, sem conseguir progredir ao longo dos termos que conduziriam à solução. Virada de costas para a classe, o rosto fixo no quadro negro, os segundos a escoarem-se, e depois a voz da professora, entre paciente e irónica, repisadora: «Então? Vamos...»
De súbito, num agastamento nítido ou em desânimo aborrecido: «Pode-se sentar!»
As mãos paralisadas deixavam cair molemente o giz e o apagador no rebordo do quadro, e a paciente? ou a vítima? ou a culpada? regressava ao lugar na carteira, umas vezes lavada em lágrimas, outras conturbada, afogueada, a arrastar os pés ou, pelo contrário, a bater com eles no chão violentamente, num protesto contra a professora, a matemática ou a gramática, o liceu, os adultos.
in Memórias da Escola Antiga (1981) de Natália Nunes
[O conceito de virgindade] Era um conceito social tanto como moral. Não o respeitar representava, além de uma transgressão social violenta, um pecado. O fim da mulher era casar e, para o fazer, tinha de ser virgem. Nos anos 50 (eu vivia na altura em Coimbra, com o meu marido), a costureira que ia trabalhar lá a casa contou-me, com um certo tom de escândalo, que uma estudante tinha sido apanhada a dar um beijo ao namorado: «Aquela já está queimada!», comentava, «já está queimada!».
Casei-me em 1945 e, para marcar bem a minha posição contra os convencionalismos, levei um vestido curto, verde-claro. Os sapatos, chapéu e flores, é que eram brancos.
Recordo [que para designar uma rapariga que tivesse perdido a virgindade, havia expressões como: «enganada», «desflorada», «dar uma cabeçada»], mas o termo «dar uma cabeçada» era mais aplicado às mulheres casadas que prevaricavam. A expressão «enganada» era mais usada nos meios rurais, nas aldeias. O que tinha um certo fundo de verdade. Dentro da mesma moral social e religiosa, o próprio rapaz, para seduzir a rapariga, prometia-lhe casamento. Se ela cedia, corria sérios riscos de ser abandonada pelo sedutor, que entendia a entrega como uma prova de leviandade. Não resistira à tentação; não era séria. Não servia para esposa.
Havia que saber de cor e na ponta da língua os verbos, os rios de Portugal, com todos os afluentes, as equivalências entre as medidas do sistema métrico, os nomes e cognomes dos monarcas de cada dinastia; executar «quebrados» e «complexos», achar áreas de rectângulos e de círculos, tudo sem uma falha, sem um lapso.
in Memórias da Escola Antiga (1981) de Natália Nunes
Aqui estou maravilhada sobretudo com as Meninas do Velázquez e depois com o Goya, Dürer, Greco. Mas as Meninas são uma inacreditável obra-prima: obra de eternidade, tempo, silêncio, suspensão, espaço, realismo, geometria, magia: a união de todos os valores abstractos com todos os valores concretos(...)
Sophia
in Correspondência Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner 1959-1978
com organização de Mécia de Sena e Maria Andresen de Sousa Tavares
- Bocemecê não sabe o que está p'raí a dezer! Fixe esta: numa Repartição do Estado não se pode mudar o lugar nem que seja a um cesto de papéis velhos, sem os supriores autorizarem. Óbiu?