A Feira do Livro de Lisboa já terminou e apesar de ter tido menos visitantes do que em 2022, houve mais gente a comprar livros, o que são óptimas notícias para o mundo livresco. Mas não se apoquentem, porque a 44.ª Feira do Livro de Coimbra já começou dia 23 de Junho e têm até dia 02 de Julho para a visitar das 11:00 e às 22:30.
A sul não percam os Encontros Literários “Verão Azul”, marcados para as tardes de 1, 8, 15 e 22 de Julho no Jardim 1º de Dezembro, em Portimão. Inspirados no título do livro “Agosto Azul” do escritor portimonense e ex-Presidente da República Manuel Teixeira Gomes, a Biblioteca Municipal de Portimão dedica a terceira edição destes encontros literários à celebração dos centenários do nascimento dos poetas, em quatro conversas entre especialistas.
Se o Clube das Mulheres Escritoras não existisse teria de ser criado até que "nas prateleiras dos autores portugueses estejam tantas mulheres quanto homens". Não há ressentimento, apenas a vontade de "contrariar o preconceito que ainda existe de que as mulheres estão sempre contra as mulheres", [o] que não passa de "um perpetuar de ideias do patriarcado, que prefere ter as mulheres umas contra as outras".
Chama-se clube mas não é um clube, ninguém paga quotas; é mais no sentido literário do que institucional, "para mostrar que as mulheres, quando se unem, fazem coisas incríveis". "Vamos puxar umas pelas outras e ajudar-nos, não só entre nós, com questões mais práticas deste ofício da escrita, mas também para divulgarmos as obras das autoras portuguesas, que ainda são um bocadinho postas de lado".
O #BookTok já chegou a Portugal e ganha cada vez mais adeptos. A paixão pela partilha de recomendações e avaliações de livros com ahashtag #BookTokPortugal já tem mais de 94 milhões de visualizações. Há já várias livrarias com áreas específicas, nas lojas, dedicadas aoBookTokcom os livros recomendados pelos influenciadores literários.
Já ouviram falar da Biblioteca Humana? É uma biblioteca que, em vez de livros, tem pessoas para se conhecer. As estantes da biblioteca enchem-se de voluntários que contam histórias a pessoas que as queiram ouvir. Um projecto original que têm de conhecer.
A maximidade da perfeição da natureza humana é percebida nas coisas substanciais e essenciais, como o intelecto, ao serviço do qual estão as restantes coisas corporais.
E por isso o homem perfeito ao máximo não deve ser eminente nas coisas acidentais a não ser por referência ao próprio intelecto. Não se requer, pois, que seja um gigante ou um anão, desta ou daquela grandeza, cor, figura ou com outras características acidentais.
Mas é apenas necessário que o seu corpo esteja de tal modo afastado dos extremos que seja um instrumento sumamente adaptado à natureza intelectual, à qual obedeça e se conforme sem resistência, fadiga ou murmurações.
(...) E quando será possível estarmos de novo juntos? Não haverá, neste tempo de tantas viagens, um congresso que nos reúna?
O Francisco e eu estamos bem mas sempre afogados de problemas. A vida todos os dias sobe de preços, e as dificuldades multiplicam-se. Mas os nossos filhos crescem, o Verão foi um esplendor e o Outono tem sido um dos mais maravilhosos Outonos que vi na minha vida. O Francisco e eu vagueamos em grandes praias desertas, onde agora graças à ponte, se chega em meia hora. E também estivemos no Algarve, nas praias mitológicas da Ponta de Piedade. E no ano passado, como sabe, além de estarmos em Roma que adorámos, passámos os dois alguns dias maravilhosos em Paris, no Louvre, na Saint Chapelle, em Notre Dame e nos bares pitorescos onde nos levou o António Dacosta. Mas penso com desespero nisto: para as pessoas como você e como nós a vida está cheia de maravilhas que todos os dias nos roubam. (...)
Sophia
in Correspondência Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner 1959-1978
com organização de Mécia de Sena e Maria Andresen de Sousa Tavares
And if you can't shape your life the way you want, at least try as much as you can not to degrade it by too much contact with the world, by too much activity and talk.
Try not to degrade it by dragging it along, taking it around and exposing it so often to the daily silliness of social events and parties, until it comes to seem a boring hanger-on.
Quase, quase a ir de férias e preparada para ir encontrar ainda mais calma nos livros que levo na bagagem. Ler livros permite-me viajar para mundos que não o meu e essas viagens trazem uma tranquilidade incomparável.
A cada página um passo mais na distância que me leva para longe. Mais do que uma forma de escapismo, ler transporta-me quase literalmente para fora daqui.
Toda a minha atenção roubada às inutilidades da realidade e em completa submissão ao pensamento, à imaginação e até mesmo à emoção. Há livros que contruíram o meu pensamento crítico, outros revelaram um mundo que jamais imaginaria e outros ainda sentiram comigo: tristeza, alegria, nostalgia, expectativa.
Os livros evocam a emoção, através das suas personagens e experiências vividas e eu, como leitora, não consigo deixar de sentir empatia e conectar-me com elas. O meu envolvimento emocional com o livro é uma experiência humana inigualável, tornando-se catártica, porque através dele há uma partilha profunda de emoções e vivências.
Completamente mergulhada na sua leitura esqueço a realidade que me rodeia e a tranquilidade chega até mim. Os pensamentos galopantes páram nos seus estribos, permitindo-me a descoberta de pequenos grandes tesouros escondidos por entre as páginas. Sabedoria, conhecimento, outras perspectivas do mundo, a minha sombra agiganta-se perante esta árvore que me protege do sol.
O meu estado solitário enleva-se com a distância do ruído e das distracções que pouco contribuem para a minha existência humana. Exploro introspectivamente a minha calma interior que se vê surpreendida por me encontrar por ali.
Só a Matemática... Porquê letras onde antes havia algarismos? Para que servia isso? Porque tinha também de aprender aquilo?
Na escola primária, na Aritmética havia problemas difíceis, ainda assim todos os cálculos se faziam sobre coisas conhecidas: saber a quanto saía cada laranja, dado o preço de uma dúzia, ou qual a capacidade de um tanque para onde deitava água uma torneira com um caudal de tantos litros durante certo tempo.
Mas o complemento aritmético, as raízes quadradas, as potenciações, as complicadas expressões com parênteses rectos e curvos, letras, números, numa misturada de somas e subtracções... Para quê? Porquê?
Junto do quadro negro a professora, de lentes grossas, cara chupada e triste (morreria daí a dois meses, tuberculosa) enchia o quadro dessas complicadas expressões, enquanto falava, falava. Apagava, tornava a encher delas o quadro e a mais falar. Tudo rápido, longínquo, estranho, sem realidade, sem razão de ser. Eu, cá atrás, confundida, aflita, com vontade de chorar, de fugir.
in Memórias da Escola Antiga (1981) de Natália Nunes
O significado estético da "douta ignorância" torna-se também evidente quando nos damos conta de que o saber do não saber conduz naturalmente, nos seus múltiplos caminhos, a uma scientia laudis perante a beleza do mundo que exprime a suma beleza do seu autor.