A nossa humanidade limitada é incapaz de apreender toda esta beleza e harmonia

Como já tinha referido anteriormente, A Douta Ignorância estruturalmente divide-se em três livros.  Acabei de ler o segundo que revela que Deus tudo criou em número, peso e medida. Há inclusivé um parágrafo belíssimo que o descreve:

Quem, pois, não admirará este artífice que se serviu de uma tal arte nas esferas, nas estrelas e nas regiões dos astros, que, sem precisão alguma, estando a concordância de todos na diversidade de todos, dispõe, num único mundo, a grandeza das estrelas, os Lugares e os movimentos e ordena de tal modo a distância das estrelas que, se cada região não fosse como é, nem ela poderia ser, nem estar em tal sítio e ordenada daquele modo, nem o próprio universo poderia ser?

A nossa humanidade limitada é incapaz de apreender toda esta beleza e harmonia e no reconhecimento desta limitação reside a douta ignorância. Porque elas mesmas não podem ser representadas objectivamente e apenas no silêncio e na plenitude conseguiremos atingi-las, mas para isso precisamos de transgredir o saber científico e as nossas representações do mundo.

Se houvesse uma linha infinita, ela seria recta, seria triângulo, seria círculo e seria esfera

Digo, pois, que se houvesse uma linha infinita, ela seria recta, seria triângulo, seria círculo e seria esfera. E, da mesma forma, se houvesse uma esfera infinita, ela seria círculo, triângulo e linha. E o mesmo se deve dizer do triângulo infinito e do círculo infinito.

in A Douta Ignorância de Nicolau de Cusa