Portugal não precisa de ser salvo, porque estará sempre perdido
Araraquara, São Paulo, 20 de Dezembro de 1962
Caríssima Sophia
Perdoe-me, se pode o meu silêncio. Mas eu já não sei que fazer para aguentar o trabalho incrível que é e cada vez mais vai sendo o meu. Todos os dias penso nas cartas que preciso de escrever àqueles que estão sempre presentes no meu coração, e todos os dias sucumbo ao peso das urgências atropeladas de tudo o que tenha aceitado fazer. Se, nestes últimos meses, eu não estivesse livre da direcção do Curso de Letras de que me demiti, não sei como estaria vivo...
(...) Cada vez mais penso que Portugal não precisa de ser salvo, porque estará sempre perdido como merece. Nós todos é que precisamos que nos salvem dele. (...)
Jorge
in Correspondência Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner 1959-1978
com organização de Mécia de Sena e Maria Andresen de Sousa Tavares