A não esquecer que a Feira do Livro Porto 2023decorre nos Jardins do Palácio de Cristal, de 25 de Agosto a 10 de Setembro. O autor homenageado é Manuel António Pina. Não percam!
Cem euros ou só um livro? O governo anunciou que "todos os que têm 18 anos em 2023 vão ter um voucher que podem trocar por um livro numa livraria. As compras vão ser em espaços físicos, não em lojas online, para que a experiência seja não só de leitura, mas da escolha e compra de um livro". No entanto a APEL propôs um cheque de 100€: "Consideramos que seria um valor relevante, olhando para os casos de Itália, Espanha ou França, que deu aos jovens um passe cultural de 500 euros, dos quais 100 seriam dedicados aos livros". Mas a quantia continua por definir.
Territórios inóspitos, assolados por inundações repentinas, secas intermináveis e temperaturas desumanas são algumas das paisagens que começam a surgir em livros de autores portugueses, demonstrando a preocupação literária pelas questões ambientais. Pode a literatura “salvar” a humanidade de uma catástrofe ambiental?
Exposição "Uma Aventura"- aqui está uma exposição que muitos leitores não irão querer perder. Pelas mãos de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, ao longo dos últimos 40 anos, miúdos e graúdos conviveram com personagens que se tornaram uma grande família. De 1982 até hoje, foram publicados 66 livros de Aventuras e mistérios que deram aos leitores lições sobre amizade, perseverança, desafio e conquistas. Esta exposição é composta pelos 66 livros da colecção que podem ser manuseados pelos visantes.
De 28 Junho a 31 Agosto 2023
For.Ever Art Gallery: Avenida António Augusto de Aguiar, 25 A, Lisboa
Exposição "Ruy Belo – inesgotável rosto"- uma exposição que celebra Ruy Belo e a sua obra no ano em que o poeta completaria 90 anos e em que passam 45 da sua morte, constituindo uma oportunidade para os seus leitores descobrirem a “mesa de trabalho” do poeta numa seleção documental do espólio que passará a fazer parte do Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea da BNP. A celebração é especialmente marcada pelo generoso acto da doação do seu espólio com que os filhos do escritor pretendem perpetuar a memória do pai entregando à sociedade, através da BNP, os materiais que estão na génese da sua obra.
De 29 Junho a 23 Setembro 2023
Biblioteca Nacional de Portugal Campo Grande, 83 1749-081 Lisboa
Nasce em Braga um novo Festival Literário: Utopia. Irá ocorrer entre os dias 2 e 12 de Novembro e o tema será “territórios literários”. Alguns dos convidados confirmados são Ludmila Ulitskaya, Karina Sainz Borgo, Dulce Maria Cardoso, Susana Moreira e Afonso Cruz. A programação irá concentrar-se sobretudo no Espaço Vita, em particular na Capela Imaculada, um espaço com um ambiente inconfundível. Conversas com autores, entrevistas de vida, workshops, oficinas, acções de capacitação, espectáculos e outros formatos darão corpo ao programa que será revelado progressivamente, ao longo dos próximos meses.
Encostada ao umbral da janela, espero.. que espero eu nesta hora do ocaso? Não sei. Dir-se-ia que a pacatez do largo não consegue reflectir-se sobre mim.
Creio que vai acontecer-me qualquer coisa dum momento para o outro, chegar alguém que me quer falar, trazer uma notícia. Pressinto que vai abrir-se no caminho da minha vida a ocasião para uma aventura extraordinária, que um acontecimento virá mudar todos os planos de exílio que tracei e definir irrevogavelmente o meu destino.
in Autobiografia de uma Mulher Romântica (1955) de Natália Nunes
Se o amor é um estado de graça, será a sua ausência um estado de desgraça?
Autobiografia de uma Mulher Romântica desde a primeira página é profundamente psicológico, mergulhando num abismo de dor, porém não está pintado com aquela negrura densa que não deixa ver nada para além dela. A cada pontada de dor há uma pausa para a pensar e dispersá-la pela paisagem.
Os sintomas de um coração partido mimetizam um ataque cardíaco, provocando alterações físicas reais. O estar-se apaixonado é alimentado pelas hormonas oxitocina e dopamina, mas quando o coração se parte, estas hormonas ficam reduzidas, havendo um aumento acentuado de hormonas de stress como o cortisol, que pode provocar pressão alta, aumento de peso e ansiedade.
A prova de que há uma ciência por detrás de um coração partido.
As plantas, todos os vegetais, nunca nos causam repugnância.
As grandes florestas podem aborrecer-nos por monótonas, entristecer-nos pela solidão ou pelo silêncio, angustiar-nos pela sombra ou pela luz difusa, fazer-nos medo pelo seu mistério ou pelos seus perigos, desenhar em nossa frente visões macabras, fantasmagóricas terríficas; uma árvore despida de folhas, de ramos nus atirados para o ar como braços suplicantes, pode suscitar uma impressão de desolação, de aflição ou desespero; uma planta pode ter uma forma grotesca, feia, selvática, obscena até, pode exsudar humidades viscosas, corrosivas, leitosas e oleosas ou rescender um cheiro nauseabundo - que nunca nos causa a impressão de repugnância complexa que nos deixam, tantas vezes, os animais.
in Autobiografia de uma Mulher Romântica (1955) de Natália Nunes
Cavafy foi também um ávido estudante de história, especialmente de civilizações antigas, o que acabou por influenciar muitos dos seus poemas onde representou os impérios grego e romano.
Aliás, Cavafy com estes seus poemas acabou por apresentar uma alternativa muito mais interessante às existentes sobre a Grécia Antiga.
Forster descreveria Cavafy como um escritor que nunca pode ser popular. Ele voa muito devagar e muito alto... Ele tem a força... do recluso, que, embora não tenha medo do mundo, sempre se mantém ligeiramente inclinado para ele.
Tive um namorado com o qual me aproximei do mito do amor. Ele era muito moreno, fascinou-me. Inventei o amor. É claro que o amor existe mas, para mim, não tem propriamente a ver com os sentidos. O amor é antes um estado de graça. (...)
[Namorava] À janela, do segundo andar para a rua, e por carta. Por vezes ele ia-me buscar ao liceu. (...)
[O pretendente podia entrar em casa da pretendida] Só depois do «pedido». (...)
[Os «atrevimentos» iam até] Aos beijos. (...)
[Falar de sexo era tabu em casa] Não só na minha - em todas as famílias o assunto sexo era inabordável. (...)
Aqui está o que distingue o animal do vegetal. Olha-se a humildade da erva, a elegância das plantas, a espiritualidade das árvores, a majestade das florestas, mas tem-se sempre, do mundo vegetal, a mesma impressão de serenidade, de confiança, de um mundo puro e tranquilo cuja existência encontra em si mesma a plenitude de realização.
No mundo animal há uma inquietação perene, uma actividade ansiosa e febril, uma atitude de desconfiança, de curiosidade receosa que conduz a uma atenção contínua, espectante e maliciosa, a um afinamento de todos os recursos de que o animal dispõe para a defesa e para o ataque.
O vegetal é inocente, e é isto que no fundo o distingue do animal. A urtiga, a roseira, podem picar-nos, mas fazem-no inocentemente. Não há fúria nem acinte nem manha no mal que nos causam. Olhamos a roseira que nos picou: lá está, com os delgados troncos eriçados de espinhos, bem à vista, serenamente não sabem o que fazem, as plantas. Mas os bichos, até os mais pequenos, até os menos complicados na escala zoológica...
in Autobiografia de uma Mulher Romântica (1955) de Natália Nunes