Como alguém que reconhece a ruína e constrói à sua roda o palácio
Lisboa, 18 de Novembro de 1969
Caríssimo Jorge
(...) Creio que a beleza destes teus versos é serem uma construção de contradições, tão complicada e tensa que é milagre que se equilibre, mas que no entanto toma e retoma o seu fio, e, percorrendo todos os seus labirintos, regressa sempre ao interior de não sei que gruta povoada de ressonâncias. É uma poesia em contínuo estado de construção e destruição na vontade de enfrentar tudo e de dizer-te tudo. Uma dicção que a si mesma se quer impiedosa, por se querer total.
Mas conjugada com um desejo de grandeza e esplendor. Como alguém que reconhece a ruína e constrói à sua roda o palácio. (...)
Sophia
in Correspondência Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner 1959-1978
com organização de Mécia de Sena e Maria Andresen de Sousa Tavares