A minha casa era muito triste; demasiado sossegada
Como o meu pai era doente, a minha casa era muito triste; demasiado sossegada. Deitávamo-nos cedo, pelas nove horas. Enquanto andei no liceu, punha o despertador para as quatro da manhã, e era a essa hora que estudava. (...)
[Aos domingos] Por vezes, ia a casa de uma amiga, filha de um conterrâneo do meu pai. Outras vezes ia com a família em excursão até à Baixa. Íamos com o meu pai aos museus e também ao Campo Grande para andarmos de bicicleta.
No entanto, ao contrário da minha adolescência, a minha infância, apesar da doença do meu pai, foi uma época extraordinária. Na altura, a tuberculose era endémica e ele não lhe escapou. A cura processava-se no sanatório do Caramulo. E foi para lá que o mandaram. A terra dele ficava muito perto e, como havia a casa de família, fomos todos viver para lá. O meu pai, em vez de ficar internado, privado da nossa companhia, só tinha de se deslocar ao sanatório para tratamento.
Natália Nunes in Entrevista Expresso