Natália Nunes & António Gedeão, um amor nascido na biblioteca
Natália enamorou-se por um físico e poeta, Rómulo de Carvalho (António Gedeão). Mulher de emoções controladas, jamais se permitiu «amar perdidamente» e revela detalhes deste grande amor:
Andava no segundo ano da faculdade e precisava de ler um livro que não tinha. Fui à Biblioteca Nacional, e à mesa onde me sentei estava um senhor, mais velho, de fato e gravata.
A certa altura, parti o bico do lápis e ele ofereceu-me o lápis dele. Disse-lhe que não era preciso, que tinha um apara-lápis comigo. Ele insistiu, e eu aceitei.
Quando me levantei para sair, ele levantou-se também e disse-me que me poderia emprestar o referido livro e mo mandava a casa. Fiquei tão surpresa com a oferta que achei por bem mostrar-lhe o meu bilhete de identidade. Dei-lhe a morada. Ele mandou-me o livro e ficámos a corresponder-nos.
[Os meus pais reagiram] Com desconfiança. Acharam esquisito, muito esquisito.
O meu pai não gostou, ficou muito aborrecido. O namoro continuou durante dois anos e, como entretanto fizera 21 anos, era maior, deixámo-nos de platonismos e passámos à prática; «adiantámo-nos», como então também se dizia.
Nunca pensei no casamento para constituir família e não me casei por paixão. Não tenho paixões: tenho perseverança. Procuro ser na vida como na escrita: racionalista.
[Casei-me] Por encantamento. Fui seduzida pela personalidade dele. Na altura, eu namorava com um jovem bonito, filho da famílias nobres, oficial da marinha. Pois não hesitei em deixá-lo por um homem quinze anos mais velho do que eu, divorciado e com um filho...
Natália Nunes in Entrevista Expresso