O eroticismo camuflado de Cavafy
Os poemas de amor de Cavafy constroem um reino mitológico do século XX que tem muito em comum com o mundo em ruínas dos tempos antigos.
Aqui os amantes encontram-se 'Na escada' de bordéis miseráveis, 'No teatro', 'Na porta do café', em frente às 'Vitrinas da tabacaria'... [Eles] trabalham em escritórios monótonos, ou para alfaiates, ferragens ou pequenos lojistas.
Jane Lagoudis Pinchin
Os críticos têm encarado a poesia de Cavafy como uma evolução, que parte do secretismo erótico até ao culminar da revelação da sua homossexualidade. A sua estratégia reside num jogo de escondidas, que tanto revela, como esconde, escrevendo, mas não revelando, a sexualidade, a identidade e o eroticismo na sua essência.
Cavafy escreve os seus poemas, escondendo o desejo nos seus versos, servindo-se da dissonância dos silêncios, subtilezas e palavras não ditas. Deste modo provoca os limites textuais e sexuais, desafiando o controlo social e ameaçando as certezas dos leitores.
Há muita contenção eufemística nos seus versos, preferindo o poeta focar-se nos aspectos emocionais e psicológicos do desejo, mesclando nostalgia, saudade e arrependimento.