Clotilde deambula psicológica e fisicamente também pelas páginas do livro

Em Autobiografia de uma Mulher Romântica Clotilde, a narradora e personagem principal,  abatida pela recente morte do marido e por uma paixão fugaz infeliz, decide esconder-se de si própria e do mundo num lugarejo provinciano.

Nos primeiros capítulos, sem conseguir dormir, sem conseguir parar de pensar nas suas dores, deambula pela natureza, caminhando pela floresta até ao mar, talvez em busca da serenidade que não encontra dentro de si mesma.

Clotilde deambula psicológica e fisicamente também pelas páginas do livro, numa viagem de auto-conhecimento, numa relação simbiótica entre o espaço exterior que a rodeia e o seu espaço interior que a atormenta.

Só a natureza tem humildade e doçura

Só a natureza tem humildade e doçura para nos deixar, a nós, a felicidade da posse de segredos e belezas, força de sedução para nos dissolver, apaziguados, na sua grandeza misteriosa!

Quando andava com as moças ou eu dizia: «Aqueles penedos gigantes são meus, com o tio Afonso, pelos montes, pelos pinheirais, aquelas giestas doiradas são minhas, os pinheiros são meus e as rolas e os gaios e a terra é toda minha mais as nuvens e o céu, é tudo meu!»

E brincava com punhados de terra e fitas de céu e todas essas coisas deslizavam dóceis, perfumadas, nas minhas mãos pequenas!

in Autobiografia de uma Mulher Romântica (1955) de Natália Nunes