Esta Alexandria, obsessão de Kaváfis, marca toda a extensão da sua obra
Konstantinos Kaváfis é seguramente um dos nomes grandes da poesia grega moderna, o que se torna ainda mais particular por ter nascido, e vivido praticamente toda a sua vida, em Alexandria.
Em 1863, numa altura em que a metrópole egípcia pertencia ainda ao enorme Império Otomano, Kaváfis nasceu filho de pais gregos, o pai um próspero mercador que acabou por falecer subitamente quando o poeta era ainda criança. Com a situação financeira subitamente tornada precária, a família viu-se necessitada a emigrar para Liverpool, onde esteve durante sete anos, regressando novamente a Alexandria em 1877, de onde foi novamente obrigada a sair em 1882, fruto da guerra Anglo-egípcia, desta feita para Constantinopla. Quando regressou à sua cidade natal, três anos mais tarde, Kaváfis de lá não saiu mais.
Esta Alexandria, obsessão de Kaváfis, marca toda a extensão da sua obra, onde temos, coexistindo, a Alexandria mítica do período helenista de 200 a.C., e a sensual e cosmopolita Alexandria do início do séc. XX, repleta de bares e bordéis, cheia de belos rapazes pelos quais Kaváfis se deixava enfeitiçar, para depois os lembrar, mais tarde, na sua beleza efémera.
A palavra "efebo" é, aliás, aquela que provavelmente povoa em maior número os 154 poemas que deixou publicados, todos eles escritos já após Kaváfis contar os quarenta anos, quando rejeita tudo o que tinha escrito anteriormente e se dedica a escrever os únicos poemas que considerou dignos desse nome, distribuindo-os em folhetins ao seu círculo de amigos, o cânone completo apenas publicado postumamente.
in O efémero da beleza e a evocação da memória na poesia de Konstantinos Kaváfis
de Joaquim Miguel Fernandes Duarte