Não acredito nos seres humanos
Nasceu em 1906 no estertor da monarquia, foi criança durante a 1ª República, fez-se adulto durante a ascenção do salazarismo. Tinha 68 anos no 25 de Abril de 1974.
Recusou cargos na Universidade, no Ministério da Educação, na reitoria dos liceus. Desprezava que a ditadura usasse o poder obscurantista para dominar os outros e desprezava que as democracias usassem a ilusão da liberdade para dominar os outros. (...)
Um ano antes da sua morte, declara: “Não acredito nos seres humanos, não acredito na capacidade de os homens fazerem qualquer coisa socialmente boa, a não ser se isso beneficiar os seus interesses pessoais”.
“Era uma pessoa totalmente desencantada”, lembra a filha, também escritora, Cristina Carvalho. “Porém, não era amargurado. A sua descrença notava-se apenas na ironia subjacente a quase tudo o que dizia. Nunca o ouvi dar uma gargalhada. Apenas sorria e o seu sorriso era sempre pontuado por uma mais clara ou mais disfarçada ironia”.
in Observador