Ele era o "caos" que eu admirava mas que não podia viver
O Regresso ao Caos (1960) também tem vários episódios sobre o ensino...
Esse livro é muito influenciado pela vida do meu falecido irmão, António Alfredo, enquanto jovem.
Ele era artista e uma pessoa extremamente livre e um tanto desordenada na vida. Um grande trabalhador, teve grande influência na cidade de Lisboa; trabalhava em publicidade, foi encenador, fez muitas montras, decorações no paquete Infante D. Henrique, mas era tão desordenado no ponto de vista profissional como sentimental.
A sua obra ficou dispersa, esquecida e obliterada, porque não guardava os seus testemunhos. Admirava-o porque ele se movimentava muito livremente para fazer a sua vida artística, ao passo que eu, casada, com uma filha e com a vida doméstica e a profissional, era, como dizia o Torga, uma escritora à "sobreposse".
Ele era o "caos" que eu admirava mas que não podia viver, porque já estava metida num "cosmos" relativamente ordenado e porque, por temperamento, sou muito arrumada e metódica. Eça é um frustrado. E há muitas frustrações nos homens em Portugal.
Natália Nunes in A Página da Educação