Não há escritor que possa afirmar que nas suas obras não haja experiência vivida
Reconhece então que a sua obra reflecte muito das experiências de vida.
Depois do 25 de Abril, os jornalistas e os críticos passaram a perguntar descaradamente aos escritores "Ouça lá, isto é autobiográfico?" Eu acho que isto é a transplantação do espírito de bisbilhotice de vizinha, para o jornalismo.
Não há escritor que possa afirmar que nas suas obras não haja experiência vivida, mas não há só isso. O escritor, porque é imaginativo, ao viver já está a ficcionar e ao ficcionar já está a viver. Entra no chamado jogo dos possíveis: vemos vários caminhos, escolhe-se um deles que, depois, se preenche com pequenas coisas da vida quotidiana, a nossa ou a dos outros.
A ficção é feita disso, da nossa vida, com as suas frustrações, os seus projectos, sonhos, desejos, êxitos e malogros. Os nossos e os dos outros, adivinhados ou sabidos.
Natália Nunes in A Página da Educação