António Gedeão rasgava todos os poemas que tinha e os que ia escrevendo
Filho de uma mãe que aos domingos lia nas cartas destinos gloriosos ou funestos, que durante a vida a adulta não saiu de casa mais do que umas poucas dezenas de vezes, Rómulo, foi também ele tocado pelos mistérios que a ciência não explica e pelas regiões de sombra que só as palavras superficiais e sentimentais parecem resolver.
“Era aristocraticamente distante, a sua autoridade vinha do seu exemplo, da sua auto-exigência. Era delicado mas poderosamente frontal. Detestava e desconfiava seriamente dos sentimentalismos”, recorda a filha do poeta.
Talvez por uma auto-exigência, mas também por timidez ou insegurança, só vai atrever-se a publicar a sua poesia perto dos 50 anos, depois de muito rasgar.
No livro de memórias Rómulo de Carvalho/António Gedeão, o Príncipe Perfeito (ed. Estampa), Cristina Carvalho conta que ele nunca deixou de escrever poesia, mas que rasgava tudo não temendo “deitar a perder todo aquele sofrimento (…) Rasgava todos os poemas que tinha e os que ia escrevendo, protegia-se de toda a dor e de todos os entendimentos.”
in Observador