A vida não nos deixa fazer muitas coisas
No livro As Velhas Senhoras e outros contos (1992) confessa ter uma atracção por temas como a loucura, as vivências infantis e juvenis.
É verdade. Tratei algumas vezes de psicopatias, como nos contos "Ao menos um hipopótamo", "Clastomina", "Micolina", entre outros.
Quanto às vivências infantis e juvenis ainda não estão completamente "esgotadas". Mas não sei até que ponto as poderei retomar porque o tempo vai passando e não sei quanto terei ainda de vida. Por exemplo os "Cadernos de uma menina pensativa"...
Textos que saíram, em 1968, no Diário Popular...
Se eu publicar esse livro, "Cadernos de uma menina pensativa" fica como subtítulo, mas vou talvez chamá-lo "Livro dos Arquétipos". Mas tenho de o ampliar.
Eu queria dar as vivências de uma criança através de uma linguagem que não seja a do escritor que está a fazer estilo, mas que procure traduzir, no discurso, a vivência infantil tal e qual se passa no espírito da criança. É difícil, tem de se simplificar muito. Tornar simples o que é muito complexo. Eu tinha o projecto de fazer um Curriculum Vitae, em vários volumes. O terceiro seria umas "Memórias da função pública". Não sei se vou conseguir fazer isso mas gostava. Nós temos projectos que nunca se realizam, porque vêm outros que nos exigem mais ou porque a vida não deixa. A vida não nos deixa fazer muitas coisas.
O outro grande tema...
A loucura. É curioso que, não sendo psicóloga de profissão, cheguei a pensar em o ser, mas enfim, havia aquela necessidade de ter dinheiro ao fim do mês... Ainda tirei um curso de testes psicológicos e cheguei a fazer um estágio no Hospital de Santa Maria, na clínica psiquiátrica de mulheres. O director era o Prof. Barahona Fernandes. Quando escrevi o conto "Ao menos um hipopótamo", ofereci-lhe um exemplar e ele disse: "Gostei muito e está cientificamente correcto". Acertei...
Natália Nunes in A Página da Educação