Vejo que as mulheres tratam sempre dos seus próprios problemas

Óscar Lopes & António José Saraiva no Dicionário da Literatura Portuguesa, dizem que a Natália Nunes é "um dos mais típicos casos de revolta contra a ética repressora da liberdade feminina burguesa."

Eu não sei se é revolta. Não é uma revolta explícita.

Uma escritora ao narrar certos casos e ao fazer introspecção, o que acontece muito na literatura feminina, está, ainda que de uma forma não explícita, a reivindicar implicitamente.

E quase toda a literatura feminina é sobre temas femininos. Vejo que as mulheres tratam sempre dos seus próprios problemas.

Os homens tratam dos homens e das mulheres, mas muitos continuam na literatura a ser misógenos e anti-feministas. Um caso actual da nossa literatura, em que há um homem que tem uma nítida atitude de defesa das mulheres, é o Alçada Baptista. Tem uma compreensão justa do que deviam ser as relações entre o homem e a mulher, até quando essas relações não são regulares. Tem sensibilidade para encarar essas relações.

Natália Nunes in A Página da Educação

Pela embriaguez da certeza antecipada

A verdade é que eu pressentia, adivinhava já nessa apatia consentida um recomeçar da minha luta. E é tantas vezes assim...

Quando estamos para iniciar um grande acto que nos entusiasma, que corresponde àquilo que profundamente desde há muito desejamos, sentimos logo a vertigem da sua próxima realização e quedamo-nos, um instante, perturbados, sufocados, paralisados até, pela embriaguez da certeza antecipada.

in Autobiografia de uma Mulher Romântica (1955) de Natália Nunes