O seu dia a dia foi de trabalho, de pesquisa, de investigações de moradas e de criação. Incansavelmente. Essa vontade da ciência, da sua divulgação e do ensino, dentro do que foi possível, cumpriu-se. A disciplina, as regras e o método foram a orientação de toda a sua vida.
A compreensão da atitude para com o próximo e o espírito de dádiva que marcou o longo percurso da vida pessoal, familiar e profissional, desenharam um traçado permanente. A estética, a beleza, o deslumbramento, o intangível acorde de um outro mundo - o da poesia - envolveram-no e tornou-se realidade.
in Rómulo de Carvalho / António Gedeão - Príncipe Perfeito deCristina Carvalho
Sós, irremediavelmente sós, como um astro perdido que arrefece. Todos passam por nós e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam. Todos se desconhecem. Os astros nada explicam: arrefecem.
Nesta envolvente solidão compacta, quer se grite ou não se grite, nenhum dar-se de dentro se refracta, nenhum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento sou eu só, e mais ninguém. Quem sofre o meu sofrimento sou eu só, e mais ninguém. Quem estremece este meu estremecimento sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços dão-se os olhos, dão-se os dedos, bocetas de mil segredos dão-se em pasmados compassos; dão-se as noites, dão-se os dias, dão-se aflitivas esmolas, abrem-se e dão-se as corolas breves das carnes macias; dão-se os nervos, dá-se a vida, dá-se o sangue gota a gota, como uma braçada rota dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto que no silêncio concentro, este oferecer-se de dentro num esgotamento completo, este ser-se sem disfarce, virgem de mal e de bem, este dar-se, este entregar-se, descobrir-se e desflorar-se, é nosso, de mais ninguém.