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Livrologia

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26
Out23

Lá no alto do quarto andar direito a vida ia acontecendo

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Foi neste ambiente calmíssimo, de gastos muito contidos, visto a família ser grande e ser apenas uma pessoa a ganhar para as despesas, que nasceu e cresceu o pequeno Rómulo.

Todas as atenções foram para ele. Todos os cuidados. Todos os sonhos e todas as esperanças. Lá no alto do quarto andar direito a vida ia acontecendo por detrás das janelas donde se avistava um mar de telhados vermelhos do pobre casario de uma cidade envelhecida e, ao fundo, a língua do rio a separar a terra do céu.

 

in Rómulo de Carvalho / António Gedeão - Príncipe Perfeito de Cristina Carvalho

26
Out23

Poema da malta das naus

Lancei ao mar um madeiro,

espetei-lhe um pau e um lençol.

Com palpite marinheiro

medi a altura do Sol.

 

Deu-me o vento de feição,

levou-me ao cabo do mundo.

pelote de vagabundo,

rebotalho de gibão.

 

Dormi no dorso das vagas,

pasmei na orla das praias

arreneguei, roguei pragas,

mordi peloiros e zagaias.

 

Chamusquei o pêlo hirsuto,

tive o corpo em chagas vivas,

estalaram-me a gengivas,

apodreci de escorbuto.

 

Com a mão esquerda benzi-me,

com a direita esganei.

Mil vezes no chão, bati-me,

outras mil me levantei.

 

Meu riso de dentes podres

ecoou nas sete partidas.

Fundei cidades e vidas,

rompi as arcas e os odres.

 

Tremi no escuro da selva,

alambique de suores.

Estendi na areia e na relva

mulheres de todas as cores.

 

Moldei as chaves do mundo

a que outros chamaram seu,

mas quem mergulhou no fundo

do sonho, esse, fui eu.

 

O meu sabor é diferente.

Provo-me e saibo-me a sal.

Não se nasce impunemente nas praias de Portugal.

Poema da malta das naus 

 in Teatro do Mundo 1958

in Obra Completa de António Gedeão

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