«Agora já durmo quase bem, e estou mais calma, mas ao mesmo tempo vejo-me como se andasse a procurar reconhecer o sítio em que nos acontece às vezes me encontro, como quando acordamos e não sabemos nem em que lugar nem em que tempo deste mundo somos nós, nem sequer se somos nós, realmente, sim, já tenho chegado a perder o sentimento da minha própria existência...»
A novela O Caso de Zulmira L. contém as sessões de psicanálise de Zulmira L.
Personagem fictícia ou pessoa real?
O livro é-lhe dedicado e, como tal, assumo que Zulmira L. teve uma existência de carne e osso. Logo na primeira página Natália Nunes escreve:
Quando acabei de me formar, resolvi dedicar-me à Psicologia. Creio que a isso me levou o meu interesse pelo desvendamento do humano.
O Caso de Zulmira L. é esse desvendamento do humano que Natália Nunes tanto aprecia, de uma perspectiva pouco científica e mais literária e metafísica:
Por meu lado, comecei também a evidenciar propensões inconvenientes, pouco científicas, por exemplo: enquanto para os psiquiatras um louco é, em última análise, um doente, para mim era e é, antes, um alienado fatalmente voluntário da existência, concepção paradoxal que de facto demonstrava da minha parte mais pendores literários e metafísicos. Em resumo: não me satisfazia a descrição formular dos casos, o seu enquadramento dentro de rótulos e a sua dissecação em quadros estatísticos.
Natália Nunes não desvenda o humano numa fórmula matemática, mas como uma filosofia, apresentando a natureza e a estrutura da realidade de Zulmira L., analisando o tempo, o espaço, as causas e os efeitos da sua existência.
Eu não queria perde de vista nem de ouvido a história pessoal e concreta dos doentes ou dos «sujeitos»: o que me seduzia era a reconstituição, a captação do caso único de cada um deles, o caso imediato, como vivência, precisamente para poder comunicá-lo assim a outras pessoas, na sua espontaneidade e realidade totais - até onde me fosse possível. E enveredei então pela Literatura.
É claro que a princípio, quando comecei a minha nova «carreira», estava ainda muito hesitante quanto à maneira literária de comunicar aos outros os casos que conhecia e que me haviam impressionado.
Com a consumação da paixão de Pasífae (a esposa de Minos) e o touro de Creta nasce um terrível monstro, o Minotauro.
Minos, preocupado com as consequências que o Minotauro poderia provocar ao seu povo e à sua cidade, resolve construir um labirinto na cidade de Cnossos, no subsolo do Palácio de Minos, criado pelo arquitecto e inventor Dédalo.
O labirinto com apenas uma entrada e concebido como uma série de caminhos entrecruzados, a maior parte dos quais levam a becos sem saída e uma passagem que leva a um destino que é o centro do labirinto, é uma representação do mundo do Além, guardado pelo Minotauro que era necessário dominar para atingir o final do percurso, um provável ritual de morte e renascimento.
Ora, quanto ao que se lê de mais honesto nas fábulas dos poetas, não há ninguém que não o cante, por maneira de dizer; mas certo Fênon, natural da cidade de Amatunte, recita-o de forma inteiramente diversa dos outros, dizendo que Teseu foi lançado por uma tormenta à ilha de Chipre, tendo então consigo Ariadne, que estava grávida e tão trabalhada pela agitação do mar que não mais pôde suportá-lo, de tal maneira que ele foi constrangido a pô-la em terra e depois reentrou no seu navio para cuidar de o defender contra a tormenta, mas foi novamente atirado longe da costa, em pleno mar, pela violência dos ventos.
As mulheres do país recolheram humanamente Ariadne e, para reconfortá-la (porque ela se desconfortou extraordinariamente, quando se viu assim abandonada), contrafizeram cartas, como se Teseu lhas tivesse escrito, e, quando ficou prestes a dar à luz o filho, tudo fizeram para socorrê-la: ela, todavia, morreu no sofrimento, sem jamais poder dar à luz, e foi inumada honrosamente pelas damas de Chipre.
Sublinhar e tomar notas nos livros é uma prática antiga e agora há leitores anónimos a oferecer, a trocar e até a vender os seus próprios exemplares anotados.
Escrever nas margens de um livro tem um nome, chama-se marginália.
O termo surgiu com o poeta inglês Samuel Taylor Coleridge que praticou a marginália em mais de 450 livros ao longo da sua vida. Outros lhe seguiram os passos como Jean-Paul Sartre, Jack Kerouac, Vladimir Nabokov, William Blake, Edgar Allan Poe e Mark Twain que foram ávidos anotadores.
Desde rabiscos, reacções a acontecimentos do livro, notas sobre as personagens, comentários analíticos ou críticos, esta é a forma de um leitor conversar com um livro.
Apesar de muitos considerarem um sacrilégio escrever nas páginas de um livro, como eu, podemos escrever em post-its ou em notas de papel que deixamos ficar por entre as páginas. Muitas das minhas notas são partilhadas aqui no blog, outras mantém-se privadas.
Ler pode ser um acto solitário, mas não significa que no seu silêncio não haja conversa.
Por meu lado, comecei também a evidenciar propensões inconvenientes, pouco científicas, por exemplo: enquanto para os psiquiatras um louco é, em última análise, um doente, para mim era e é antes, um alienado fatalmente voluntário da existência, concepção paradoxal que de facto demonstrava da minha parte mais pendores literários e metafísicos que científicos.
Em resumo não me satisfazia a descrição formular dos casos, o seu enquadramento dentro de rótulos.
O ghostwriter - escritor fantasma - é uma escolha cada vez mais frequente pelas clebridades quando decidem publicar as suas autobiografias.
Ghostwriting é a escrita de um determinado conteúdo para outras pessoas, que o publicarão como se fosse seu. É uma prática comum não só em autobiografias de celebridades, mas também em livros técnicos, guiões cinematográficos, artigos de revistas e muito mais.
O ghostwriter é um escritor profissional que é contratado para escrever em nome de outra pessoa. Geralmente, são escritores experientes em vários estilos e géneros de escrita e escrevem em estreita colaboração com os seus clientes de modo a compreender as suas ideias, os seus objectivos e os resultados que pretendem.
E quanto à ética? Até que ponto é desonesto e enganador apresentar um livro com o seu nome na capa e ter sido escrito por outra pessoa?
Tudo se resume a uma questão de transparência.
Se o objectivo é enganar propositadamente o público é claramente anti-ético, mas se o leitor é informado de que o livro foi escrito com a colaboração do ghostwriter, não me parece desonesto.
Nem todas as pessoas têm talento para a escrita e quem quiser, por exemplo, partilhar a história da sua vida, em estreita colaboração com um ghostwriter, poderá fazê-lo de uma forma íntegra e transparente.
No caso específico retratado no filme The Wife realizado por Björn Runge - que aconselho vivamente a verem - o ghostwriting é utilizado para enganar o público, o que levanta sérias questões éticas.