O menino Rómulo passava tempos esquecidos na janela
De verão, quando não brincava na varanda, o menino Rómulo passava tempos esquecidos na janela, encantado e sonhador, com a pintura dourada e cintilante que produzia o reflexo do sol na água do seu rio Tejo e, de inverno, por detrás da janela fechada, continuava a observar o horizonte frio, esse mundo de mistério sem grandes explicações.
Todo o encanto da vida numa janela de rio, em parapeitos de água, da alegria que traz um certo sol e de alguma fugaz tristeza de criança. Sensações de contornos subtis que lhe desenharam, indelevelmente, a certeza do mistério do ser solitário. A janela e a varanda onde tanto brincou, de onde observou pela primeira vez na vida a prova da existência da humanidade, homens e mulheres subindo e descendo a rua, ainda que muito ao longe, existiram sempre nas suas melhores lembranças.
in Rómulo de Carvalho / António Gedeão - Príncipe Perfeito de Cristina Carvalho