A leitura de um livro é a pausa de que preciso nestes tempos de informação acelerada e frenética.
A minha biologia não se adapta à rapidez dos tempos tecnológicos e são necessárias muitas pausas de silêncio para recuperar da histeria informativa. Desisti de me forçar a acompanhar o ritmo, a quantidade e as diversas fontes de informação que teimam em entrar pelo meu mundo adentro diariamente.
O momento de leitura de um livro acompanha o meu ritmo humano e, por isso, sinto-o tão natural.
Mas ficará realmente diminuído um artista que produziu uma obra notável, se viermos a conhecer as suas hesitações?
Apesar de tudo, as hesitações dum artista notável devem ainda ser bem diferentes das hesitações de um artista medíocre. Deve o artista sacrificar o seu pudor e a sua humana vaidade, ao «conhece-te a ti mesmo» que Sócrates apontou à humanidade? Devemos satisfazer-nos apenas com o conhecimento intuitivo, global e significativo do homem, que nos dá a contemplação da obra artística perfeita e acabada, ou devemos, por exemplo, fazer o estudo dos quadros dum grande pintor, observando a anatomia da sua técnica por meio de radiações várias?