Boas Festas livrescas
O Livrologia deseja a todos os leitores Boas Festas com saúde, paz, amor e muitas aventuras livrescas.
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O Livrologia deseja a todos os leitores Boas Festas com saúde, paz, amor e muitas aventuras livrescas.
Depois da morte do Minotauro, Teseu regressa a Atenas num navio e, ao longo da viagem, vai substituindo as peças várias vezes. Removiam as partes velhas que apodreciam e colocavam partes novas. A modificação e a identidade do navio tornaram-se num tema debatido desde os antigos filósofos gregos até hoje.
Se todas as peças de um navio forem substituídas ao longo das suas viagens, podemos considerar que o navio permanece o mesmo? Da mesma forma, o ser humano permanece o mesmo depois de passar pelas suas experiências de vida? Este é o conhecido Paradoxo do Navio de Teseu.
Heráclito formulou uma das frases mais conhecidas sobre este tema: O mesmo homem não se banha no mesmo rio, pois outras são as águas, e outro é o homem.
Thomas Hobbes tornou esta questão ainda mais complexa: Se todas as partes do navio original fossem substituídas, teríamos então dois navios de Teseu?
O Paradoxo do Navio de Teseu mostra como é difícil determinar quando algo se torna diferente. É uma reflexão sobre a relação entre a identidade e a mudança. Por exemplo: seríamos ainda a mesma pessoa se mudássemos o nosso nome, a aparência ou a personalidade?
O paradoxo do navio de Teseu é uma provocação sobre a natureza da nossa identidade. A identidade pessoal não é apenas uma realidade objectiva, mas também uma realidade subjectiva que se modifica constantemente e nos convida a pensar sobre o que nos define de facto.
Excerto de Teseu e Rómulo
in Vidas Paralelas de Plutarco
Tendemos a esquecer escritores importantes, mesmo se ainda vivos, quando deixam de publicar ou de ser mencionados pela crítica.
Aí tem a Universidade um dos seus objectivos: em vez de insistir em figuras bastante estudadas, e embora reconhecendo o valor da diversificação de abordagens, evidenciar autores para o estudo constitui variabilidade que enriquece a instituição, atentando no país — além de que o escopo teórico de que o ensino deve dar mostras se afina pela pluralidade dos textos encarados; e consagra-se na atenção que presta a criações pátrias.
Natália Nunes é um desses nomes que faz falta recordar: são quase sessenta anos de obra literária, em produção prolífera de romances, contos, novelas, ensaios, impressões de viagens, memórias, traduções. Um vulto discreto mas que traça figurações de texto apelativas, inesperadas, mordazes.
Quando o fim daquele amor se me afigurava muito próximo, numa espécie de visão fugitiva, sem consistência, talvez porque ainda o não pudesse aceitar, acreditar, pensei a sós comigo: «Foi como um romance, isto, a que ele chamou "a nossa experiência" e eu "a nossa mísera aventura".
E, ao pronunciar intimamente estas palavras, eu estava já a transpor para um passado muito distante esse isto, que afinal, ainda não se extinguira, então, por completo.
Era, no presente, a certeza de verificar que tudo, na vida, se transforma inexoravelmente em passado (...)
in A Nuvem. Estória de Amor (1970) de Natália Nunes
Vícios tenho poucos, mas um que me acompanha desde a infância é a obsessão por livros, o fascínio pela leitura.
Para mim, o livro é uma experiência imersiva, em que posso percorrer a mente do autor, mas também a vida e vivências das personagens.
Ambos permitem-me viver o pior e o melhor que o mundo tem, sem sair das páginas de um livro.
Refugiar-me num livro em busca de respostas não é a evasão da realidade, antes pelo contrário, é uma forma mais complexa de olhar para o mundo para compreendê-lo. O que significa que não tenho de esperar anos de existência como ser humano para vivenciar momentos que, de outra forma, jamais viveria.
Não esteja tão desoladamente triste porque eu não sei o que lhe hei-de dizer nem o que lhe hei-de fazer. Sabe? A tristeza pode ser uma espécie de reconciliação do coração com a cabeça, se é que assim o podemos dizer, é um despertar lento da alma, nuvem clara que nos trespassa os olhos sem doer, é um sentimento indefinível e misterioso que até nos pode aconchegar e fazer-nos pensar em coisas inesperadas e importantíssimas à nossa volta.
Excerto do conto Até já não é adeus ou
A triste história de Luís desde que nasceu até que morreu
in Até já não é adeus (1989) de Cristina Carvalho
Pelos dez anos, Rómulo teve o primeiro grande impulso poético que se conhece. Uma tarde, o pai chegou a casa e encontrou o pequeno sentado à mesa da casa de jantar, vestido com roupagens estranhas, um chapéu de plumas e uma espada de madeira à cintura:
«Como Camões escreveu os seus Lusíadas até ao reinado de D. Sebastião, eu proponho-me continuar até ao reinado de D. Manuel II.»
Foi esta a resposta que deu ao pai. O senhor Gama nem queria acreditar no que tinha acabado de ouvir. A verdade é que escreveu, por esses dias, o Canto IX (1578-1580) com doze estrofes. Inacreditável!
in Rómulo de Carvalho / António Gedeão - Príncipe Perfeito de Cristina Carvalho
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