Zulmira quer liberdade para viver a sua vida

N'O Caso de Zulmira L. assistimos ao derrame psicológico de Zulmira que busca a cura para a sua inquietude nas sessões de psicanálise a que se submete. Uma inquietude que não é mais do que um forte desejo de liberdade que não se coaduna com o papel restritivo da mulher na sociedade em que está inserida.

Zulmira quer liberdade para viver a sua vida. Que vida? A que quiser viver.

Não sabe ainda qual será, e, na verdade, não importa sabê-lo. Apenas sabe que não é esta. A vida em que vive alheada e desconectada daquela outra vida que anseia e que não sabe qual é.

E me apetecesse estar sempre a recomeçar

Às vezes, uma espécie de nostalgia desse tempo de liberdade... de me sentir ou saber sempre disponível para coisas que ainda estavam para acontecer, para prolongar a aventura da existência. Não sei se isto acontece às outras mulheres, mas era como se a própria regularidade da minha vida me aborrecesse e me viesse um desejo impetuoso, quantas vezes! não sei de quê, como se não pudesse conformar-me com o definitivo e com a regularidade e me apetecesse estar sempre a recomeçar.

in O Caso de Zulmira L.  (1967) de Natália Nunes