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Livrologia

Livrologia

27
Mar24

A maioria das pessoas não se considera um filósofo

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A filosofia está em todo o lado e ao longo da vida é impossível escapar ao questionamento filosófico. Do jardim de infância ao lar de idosos, nunca deixaremos de pensar em questões filosóficas e de as debater.

A maioria das pessoas não se considera um filósofo, porque nem se apercebe que muitas das questões que equaciona é a própria raiz da filosofia.imageedit_3_3426030251.png

26
Mar24

Ana é uma rapariga de 18 anos que, contrariando a vontade dos pais, viaja para Londres

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Ana é uma rapariga de 18 anos que, contrariando a vontade dos pais, viaja para Londres, acreditando numa vida melhor e no amor vivido com João Filipe, o namorado que emigrou para fugir à Guerra Colonial. Mesmo que, no fundo, saiba que nunca se conseguirá libertar de uma herança cultural e familiar, que lhe corre nas veias misturada com o sangue: «Percebeu toda a confusão de hábitos, maneiras e costumes, dos quais, pensou ela, mesmo que desapareça, jamais se poderá esquecer.»

A escrita de Cristina Carvalho mostra-nos a poesia da voz interior, alternando entre narradores e permitindo um vislumbre dos sonhos (desfeitos e por cumprir) de cada uma das personagens. Tal como a geração de Ana, que então partiu para cumprir um sonho fugindo a um país sonolento, há agora gente que parte diariamente, impelida por uma política de desertificação humana. Porém, se na geração de Ana o regresso a casa era visto como provável, hoje em dia parece ser de uma impossibilidade tremenda. Um livro urgente, pertinente e de uma estranha e inimaginável actualidade.

in Rua de Baixo de Pedro Miguel Silva

26
Mar24

Eu vou-me embora. Decidi.

Eu vou-me embora. Decidi. Eles estão todos a fugir à guerra, já reparou? Já reparou na quantidade de alunos, de caras conhecidas aqui do bairro que deixou de ver? Sabe para onde foram? Para França, para Itália, para Inglaterra, sabe-se lá para onde! Desaparecem de um dia para o outro, sozinhos, completamente sozinhos, depois passados uns tempos telefonam aos pais, às namoradas, a dizer onde estão.

Se o professor entrar na Értilas, aí por volta do meio-dia, há-de reparar numa data de mães tristes, tristíssimas que se conhecem todas umas às outras, mas não se falam, apenas se olham e bebem comovidas o mesmo carioca morno.

in Ana de Londres (1996) de Cristina Carvalho

25
Mar24

Finalmente, em 1945, casaram-se Rómulo e Natália

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Como viu, realmente durante mais cinquenta e cinco anos. Reparou, então, que ela ia tomando apontamentos num caderno com um lápis pouco afiado.

«Com licença, tenho aqui um lápis maior, bem afiado, pode dar-lhe mais jeito...»

e ela

«Mas este lápis está bem, muito bem afiado!»

e ele

«Posso então dar-lhe um novo caderno acabado de comprar?»

e ela

«Não percebi...»

e ele

«Que está a estudar? Para algum exame, talvez! Sou professor...»

Naquela altura e numa fração de segundo todas as dúvidas se dissiparam e a canção murmurada em largos horizontes, canção de torturas e delícias, fez-se ouvir. Esse namoro, preparos de uma longa vida a dois, durou dois anos e meio. Finalmente, em 1945, casaram-se Rómulo e Natália.

in Rómulo de Carvalho / António Gedeão - Príncipe Perfeito de Cristina Carvalho

25
Mar24

Allegro Moderato

Imponderal tenteamento,

mãos de seda no teclado,

vou tocando um céu estrelado

para meu entretenimento.

 

Nas ondas do som me deito,

em circunferências me alastro;

na testa penduro um astro

com alfinetes de peito.

 

Fujo ao continente magro

de inapetência de estrelas.

Cerro os lábios e consagro-

-me ao gozo de entretecê-las.

 

Estrelas são língua cifrada,

moer do mundo abissal,

faculdade renovada,

em todo tempo, epocal.

 

Dissonantes como pérolas

num mar morto de imundície,

são bolhas gárrulas, cérulas,

rebentando à superfície.

Allegro Moderato

Máquina de Fogo 1961

in Obra Completa de António Gedeão

24
Mar24

Quem não for capaz de viver na incerteza é melhor nem se pôr a pensar

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Aprender a perguntar bem é desconfiar das respostas demasiado taxativas, demasiado óbvias.

Filosofamos a partir do que sabemos até ao que não sabemos ou que achamos nunca vir a saber. Outras vezes, filosofamos contra o que sabemos, repensando e questionando aquilo que achávamos saber.

Uma coisa é certa, quem não for capaz de viver na incerteza é melhor nem se pôr a pensar.imageedit_3_3426030251.png

24
Mar24

Andamos todos a enganar-nos uns aos outros

Andamos todos a enganar-nos uns aos outros. Os ricos aos pobres, os pobres aos ricos. Não me venham cá com frases feitas, pior, com ideias feitas, dizer que a culpa é só do sistema económico e social, a natureza humana, a parte reptiliana, arcaica, do nosso cérebro, não conta? Enfim, não sei.

Excerto do conto Sobremesa

in Da Natureza das Coisas (1985) de Natália Nunes

Quanto mais leio menos sei
Tudo o que escrevi para o Desafio de Escrita dos Pássaros está aqui!
Já começou a viagem pelo mundo da Gata Borralheira.
Cinema e literatura num só.
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