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Livrologia

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31
Mai24

Soneto

Ao Luís Vaz, recordando o convívio da nossa mocidade

Não pode Amor por mais que as falas

mude exprimir quanto pesa ou quanto

mede.

 

Se acaso a comoção falar concede

é tão mesquinho o tom que o desilude.

 

Busca no rosto a cor que mais o ajude,

magoado parecer aos olhos pede,

pois quando a fala a tudo o mais excede,

não pode ser Amor com tal virtude.

 

Também eu das palavras me arreceio,

também sofro do mal sem saber onde

busque a expressão maior do meu anseio.

 

E acaso perde, o Amor que a fala esconde,

em verdade, em beleza, em doce enleio?

Olha bem os meus olhos, e responde.

Poema Soneto

Poemas Póstumos 1983

in Obra Completa de António Gedeão

30
Mai24

Foi uma espécie de revelação, se quiserem

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Ainda recordo nitidamente a sensação que tive. Foi como se alguma coisa descesse do céu, devagar, quase como que flutuando, e eu pudesse agarrar nela.

Por que razão quis o destino que me viesse parar às mãos, não sei dizer, mas aconteceu. Nunca soube e continuo sem saber. Foi uma espécie de revelação, se quiserem. Talvez «epifania» seja uma palavra melhor.

A única coisa que posso afirmar é que a minha vida mudou da noite para o dia no preciso instante em que Dave Hilton, enquanto primeiro batedor, alcançou, de forma magnífica, a segunda base.

Haruki Murakami in Prefácio de Ouve a Canção do Vento (1979)

30
Mai24

Ao escrever torna-se-me muito mais simples dar sentido à vida

Só mais uma coisa acerca da escrita.

Escrever, para mim, é uma tarefa terrivelmente angustiante. Posso estar um mês inteiro sem redigir uma única linha, ou chegar à conclusão de que tudo o que escrevi durante três dias e três noites a fio não vale a ponta de um corno. Ao mesmo tempo, a escrita dá-me imenso gozo. Em comparação com as adversidades que encontramos pelo caminho, ao escrever torna-se-me muito mais simples dar sentido à vida.

in Ouve a Canção do Vento (1979) de Haruki Murakami

29
Mai24

Abelaira era um cético militante mas não era um pessimista

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Abelaira era um cético militante mas não era um pessimista.

Durante o fascismo, ansiava pela libertação e nunca o escondeu. Emocionou-se com a campanha do general Delgado, empenhou-se no Programa para a Democratização da República.

Em abril de 1974, trabalhava em O Século e escrevia diariamente, na primeira página do jornal, uma pequena nota crítica. Foi diretor da Vida Mundial, onde trabalhamos juntos. E Trabalhar com Augusto Abelaira era um infinito prazer. Porque ele encarava a redação como os grandes mestres do Renascimento os seus “ateliers”. Não como um simples local de trabalho mas como um espaço de discussão de acontecimentos, de ideias, de aprendizagem e transmissão de conhecimentos

29
Mai24

Conversam, entregam-se às palavras

Giovanni e Rosabianca!

Vão trepando vagarosamente a estradinha que conduz à igreja de São Francisco. Conversam, entregam-se às palavras, mas não só às palavras, ao ar gostoso e perfumado que separa umas das outras as palavras - palavras que assim lhes aparecem como arquipélagos, arquipélagos ricos, densos de florestas e de enigmas, que assim lhes aparecem a emergir do oceano do tempo, desse tempo que é ar inspirado, expirado, denso, saboroso.

Conversam. Sobre quê? Conversam. 

Nem uma palavra acerca de Mussolini ou do fascismo. Neste momento não são escravos. Vão livres e sorriem no meio das palavras encantadas.

in A Cidade das Flores (1959) de Augusto Abelaira

28
Mai24

A par da música, a leitura era o que mais gozo me dava

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A par da música, a leitura era o que mais gozo me dava. Por mais trabalho que tivesse, por mais dura que fosse a minha vida, por mais esgotado ou falido que estivesse, era o único prazer que ninguém me podia tirar.

Estava já perto dos trinta anos quando o nosso bar de jazz de Sendagaya começou a dar sinais de estabilidade financeira. Continuávamos a ter dívidas, convém acrescentar, e não nos podíamos dar ao luxo de cruzar os braços (havia períodos com pouco movimento e as coisas nem sempre corriam pelo melhor), porém, tudo indicava que estávamos no bom caminho.

Haruki Murakami in Prefácio de Ouve a Canção do Vento (1979)

28
Mai24

Quem tem um coração negro só pode ter sonhos negros

«Quem tem um coração negro só pode ter sonhos negros. Aqueles que o têm ainda mais escuro nem sequer sabem o que é sonhar», costumava dizer a minha falecida avó.

Na noite em que ela morreu, o primeiro gesto que fiz foi estender a mão e fechar-lhe os olhos. Enquanto lhe cerrava suavemente as pálpebras, os sonhos que ela tivera ao longo dos seus setenta e nove anos esfumaram-se em silêncio, sem deixar rasto, evaporando-se como gotas de um aguaceiro de Verão no asfalto quente.

in Ouve a Canção do Vento (1979) de Haruki Murakami

Pág. 1/8

Quanto mais leio menos sei
Tudo o que escrevi para o Desafio de Escrita dos Pássaros está aqui!
Já começou a viagem pelo mundo da Gata Borralheira.
Cinema e literatura num só.
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