Sobre Os Desertores, Abelaira confessou que gostaria de escrever um romance mozartiano, um romance capaz de divertir e preocupar. E conseguiu o que queria: Os Desertores.
A existência fútil das suas personagens impregnada de juventude, de sensualidade e de encantamento, exibindo a sua deserção perante as questões mais importantes do mundo. Uma deserção que lhes provoca uma leve consciência, um leve remorso, uma leve angústia.
As palavras gastas a bel-prazer de cada qual, eis um vício herdado lamentavelmente das nefastas doutrinas liberais! É o século XIX e não o século XX.
Compreende?
Torna-se necessário evitar o desperdício, no interesse do bem comum. Planificar o consumo das palavras, compreende? Ora eu encontrei a fórmula que estimulará uma nova coesão social. O Estado concede-me o monopólio da exploração das palavras e eu pago-lhe, é claro, o imposto adequado.
Veja: venderei então a cada indivíduo as palavras que ele deseja pronunciar. As palavras terão um preço.
Como 10 não são suficientes, trago mais 5 autores brasileiros imperdíveis:
Chico Buarque de Holanda (1944-)
Além de compositor e músico, Chico Buarque é também um escritor com uma obra literária reconhecida. Recebeu inclusivé o Prémio Camões. Os seus romances abordam problemas sociais e universais, com uma escrita contemporânea cheia de referências autobiográficas.
Dica de leitura: Essa gente (2019)
Luis Fernando Verissimo (1936-)
Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre em 1936. Filho de Érico Verissimo, outro grande nome da literatura brasileira, Luis Fernando tem uma vasta obra publicada: contos, romances e crónicas. Tornou-se conhecido pelos seus textos bem-humorados e irónicos em que retrata o quotidiano e o comportamento humano.
Dica de leitura: Clube dos Anjos (1998)
Adélia Prado (1935-)
A escritora mineira Adélia Prado é uma das referências femininas na literatura brasileira. A sua escrita insere-se no modernismo e está impregnada de elementos do quotidiano, que ela inteligentemente transforma em eventos misteriosos com uma certa dose de perplexidade. Os seus temas mais recorrentes são as vivências das mulheres na sociedade patriarcal e machista do século XX.
Dica de leitura: Bagagem (1976)
Marçal Aquino (1958-)
Marçal Aquino é um escritor nascido no interior de São Paulo que se destaca na literatura contemporânea brasileira. Os temas mais frequentes estão relacionados com questões urbanas, especialmente a violência, revelando a natureza dura das grandes cidades.
Dica de leitura: Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios (2005)
Cecília Meireles (1901-1964)
Escritora, pintora, jornalista e professora, a carioca Cecília Meireles nasceu em 1901 e foi criada pela avó. Ainda criança demonstrou interesse pela poesia e aos 18 anos publicou o seu primeiro livro. Com uma obra extensa, Cecília é um dos nomes mais conhecidos da literatura brasileira e recebeu inúmeros prémios. Escreveu de forma intimista e sensível, destacando-se também na poesia infantil.
Há alturas em que minto. A última vez aconteceu há um ano. As mentiras são detestáveis.
Não é exagero dizer que a mentira e o silêncio constituem os dois pecados mais graves da sociedade contemporânea. Mentimos com os dentes todos que temos e calamo-nos amiúde. E, no entanto, se fôssemos sempre sinceros e nos refugiássemos no silêncio, a verdade acabaria por deixar de ter valor.
in Ouve a Canção do Vento (1979) de Haruki Murakami
No caso de Carlos de Oliveira, o emprego dos parênteses tornou-se progressivamente o ingrediente fundamental do seu estilo económico, conciso, redutor - que evitando formalmente o comentário explícito de autor, recusa igualmente a abundância do pormenor, vela a minúcia a precisão, foge ao descritivo, ao inventário, ao exemplo, evita o exibicionismo erudito, o didactismo explicativo, a digressão analítica, a exposição doutrinária.
Estilo económico que, como se disse, em grande medida é voluntário, consciente, oficinalmente elaborado.
in A Ressurreição das Florestas (1997) de Natália Nunes
Do universo do compositor, faziam parte, além do compositor Franz Liszt, personagens como o pintor romântico Eugène Delacroix, a escritora George Sand, uma escocesa chamada Jane Stirling, "a mulher que mais intensamente o amou”, segundo a escritora, o violoncelista Auguste Franchomme, “muito conhecido na época”, e a condessa polaca Delfina Potocka, entre muitos outras figuras, igualmente retratadas em Nocturno.
Como banda sonora, durante o processo de escrita deste romance, Cristina Carvalho ouviu todos os dias música de Chopin, sobretudo “dois nocturnos, o 19 e o 27”, embora não enquanto escrevia, “isso seria demasiado forte”, comentou. Em vez disso, a construção deste romance foi acompanhada de “muitas chávenas de chocolate quente”, a bebida preferida do compositor.
O período da minha vida com George Sand foi prolífico mas também foi infeliz. Esta é a verdade. Ela nunca me foi fiel. Ela foi sempre, disfarçadamente, imperceptivelmente e literariamente, infiel. Eu fui-lhe sempre fiel, mas musicalmente infiel. Não podia ser doutra maneira.
in Nocturno, o romance de Chopin (2009) de Cristina Carvalho