Não é caso único o de uma criança começar a versejar precocemente, muito antes da adolescência, idade em que tal procedimento é já muito frequente.
Aqui, o Poeta escreveu os seus primeiros versos aos cinco anos. (...) No caso de António Gedeão, a precocidade foi extrema: aos cinco anos produziu duas quadras e um poema de onze estrofes, já de excelente construção formal: trata-se de produções premonitórias da sua futura e excepcional expressão literária, não só em prosa correcta, clara e elegante, como através da poesia.
Quando um escritor escreve vários livros, serão eles tentativas imperfeitas para alcançar o livro perfeito?
Desconfio que um autor dedicará a sua vida a escrever o livro, o mesmo livro, que tenta escrever vezes e vezes sem conta. O livro que tem dentro da sua cabeça que tenta concretizar nos vários livros que vai escrevendo:
« (...) chamei um livro novo à tentativa de escrever de novo o mesmo livro. Aí está a loucura: sempre que chego à conclusão de que falhei, de que tenho de pôr outra vez mãos à obra com papel novo, com situações novas, para achar o que continua a escapar-me, em vez de humildemente concluir que fracassei, dou um título à versão fracassada e publico-a.
Porquê? Por que razão já publiquei quatro falsos romances quando o romance que trago em mim é um só e está ainda por escrever, talvez nunca seja escrito?»
in Prefácio para todas as improváveis edições futuras escrito a propósito da segunda edição
A fé obriga a sacrifícios, a muita consciência, e o cepticismo, pelo menos este nosso cepticismo, é mais cómodo. Os católicos, os cátaros, os socialistas, sei lá quem mais, deixaram-se ou deixam-se morrer pelos seus ideais. Não sou capaz de morrer por nada, nem mesmo por mim próprio...
Dantes os homens não sabiam viver sem um credo e hoje descobriu-se que é fácil, descobriu-se que é cómodo...
Num ecossistema literário em constante mudança, já não abdico da minha app de leitura.
Antes do advento das apps, frequentei o Goodreads, uma espécie de rede social para leitores e amantes de livros, onde se pode ver quem está a ler o quê, registar o que lemos, o que estamos a ler e o que queremos ler no futuro e até seguir recomendações de leituras.
A intenção era boa, mas ficou-se pela teoria.
Inscrevi-me. Preenchi a minha estante de "leituras para ler" com algumas das recomendações da plataforma, que, cá entre nós, não são nada por aí além. Segui as páginas dos meus escritores favoritos, como se Nabokov e Kafka decidissem, um dia, escrever posts do além. Inundei o meu perfil com citações dos livros que li e declarei sem medo que os meus livros preferidos eram os grandes clássicos, na sua maioria, de autores que se recusam a dar entrevistas por estarem mortos.
Não tardei muito a perceber que aquilo tudo não passava de uma falácia, daquelas falácias em que achamos que nos vão dar uma viagem e acabamos por trazer para casa um lava-pés a pilhas, pago do nosso próprio bolso.
Subitamente, vi-me a adicionar livros para ler, convencida por um algoritmo, que não conheço de lado nenhum. Afinal, não era bem um espaço de leitura, onde a comunidade de leitores poderia trocar ideias e debater livros, mas um espaço de venda de livros encapotada. Pior: livros cujas páginas nem sequer usaria para forrar as gavetas lá de casa.
Adquirido há uns anos pela Amazon, o Goodreads não apoia a comunidade de livros e de leitores, explora-a. O seu principal objectivo não é ir ao encontro das necessidades dos leitores ou desenvolver a comunidade de leitura, mas aumentar as vendas de livros a todo e qualquer custo.
O Goodreads pode ser óptimo para muitas coisas, mas não para um leitor que procura muito mais do que a mera aquisição de livros.