I do not think there need be vanity or impertinence in writing the story of one's own life, still less in choosing from among the memories that life has left us those which seem worth saving. From my point of view, I feel as though I am fulfilling a duty, painful at that, for I know of nothing more difficult than to define and sum oneself up as a person. The study of the human heart is such that the more one is absorbed by it, the less clearly one sees it, and for certain active minds, to know oneself is a fastidious, never-ending study.
However, I intend to discharge this duty; I have always had it in view; I have always promised myself not to die without having done what I have always advised others to do for themselves: a sincere study of my own nature and a careful examination of my own existence.
Excerto de Part 1- Family History: From Fontenoy to Marengo
Madame Delmare had all the superstitions of a nervous, sickly Creole; certain nocturnal sounds, certain phases of the moon were to her unfailing presages of specific events, of impending misfortunes, and the night spoke to that dreamy, melancholy creature a language full of mysteries and phantoms which she alone could understand and translate according to her fears and her sufferings.
Em Finisterra não existe tal mundo de objectos privados de significação, pelo contrário: embora reduzidos à categoria de signos e de símbolos, é precisamente através das suas significações que conseguimos encontrar os sentidos mais profundos deste discurso afinal voltado para o passado.
O recurso ao presente do indicativo, em Finisterra, terá resultado, primeiro do desejo do escritor, de modernizar a sua escrita, fugindo ao pretérito imperfeito ou ao pretérito perfeito simples da narrativa clássica (...)
in A Ressurreição das Florestas (1997) de Natália Nunes
Assisto (assistimos os dois) em silêncio à ressurreição das florestas, também silenciosa.
Ralanti desfocado (imagem por imagem) e contudo nítido no conjunto. Examino a ideia (é-me imposta de fora: não fui eu a elaborá-la) duma catástrofe serena, planeada, às avessas, e isso assusta-me ainda mais. Exacerbando sentimentos comuns (espanto, medo), mas inserindo-se numa experiência nova (signos doutra lógica e doutra realidade), a ideia insinua que estou a viver por conta própria e a sonhar de alguém.
A palavra «literatura» desperta um certo desconforto nas pessoas. Erradamente assumida como «intelectualidade», «erudição» ou até mesmo «saber académico», a literatura não é nenhum palavrão inacessível. A literatura é de todos nós e tem o propósito de ser lida e desfrutada.
Quem abomina literatura por achá-la pura intelectualidade, não lhe está a dar a oportunidade que merece.
A literatura é mais do que um conceito, é feita de pessoas, de histórias, de mundos que não conhecemos. A literatura coloca o leitor no lugar do outro, ajudando-o a sentir uma maior conexão com a humanidade.
Debater interpretações, tecnicismos, simbolismos de um livro em tertúlias literárias não define a «literatura» na sua essência, está para além dela, e creio que é aqui que reside o equívoco.
Tudo o resto me apareceu então numa imagem muito, muito difusa e esbranquiçada e nessa imagem pude distinguir a América, tão longínqua que quase nem dá para perceber, mas eu sei é isso, a América, mais as suas pessoas com certeza iguais a mim, mais coisa menos coisa, com porcos, pombas, galinhas e patos para se preocuparem também e sem sonharem que do outro lado deste mar negro e grosso existem outras pessoas iguaizinhas a elas, quer se queira ou não se queira.
Vi também outros pontos da Terra que eu não conheço mas que se me apresentaram muito nítidos neste meu derradeiro pesadelo; vi a África cheia de pó, de poeiras, amarelada, um imenso deserto dourado com muita, muita gente estranha, e um silêncio terrível invadia toda esta terra e nem os homens nem os bichos compreendiam a desgraça de viver neste silêncio tão trágico. Mesmo assim, muitos dos porcos, pombos, galinhas e patos desta terra sobreviveram.