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Livrologia

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16
Jun24

Não estava nos meus planos produzir prosa num japonês esbatido

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Propunha-me construir um estilo fluente e «neutro», desprovido de ornamentos supérfluos. Não estava nos meus planos produzir prosa num japonês esbatido, mas transmitir ao romance a minha própria voz, utilizando um japonês que se afastasse o mais possível da chamada «linguagem romanesca».

Para tal, tinha de arriscar. Falando com franqueza, naquela altura, a língua japonesa não passava, no meu entender, de um instrumento funcional. Alguns dos que me criticam viram nisso um insulto à língua japonesa.

Todavia, um idioma é, na sua essência, sólido, possuindo uma capacidade de resistência apoiada num longo historial com provas dadas. Independentemente do modo mais ou menos duro como é tratado, a sua integridade nunca fica posta em causa.

Haruki Murakami in Prefácio de Ouve a Canção do Vento (1979)

15
Jun24

Exploração intensiva da imaginação da matéria e dos seus elementos naturais

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Em Finisterra, a linha de fuga de Carlos de Oliveira vai consistir na penetração decisiva numa senda de exploração intensiva da imaginação da matéria e dos seus elementos naturais, desde as profundidades dos estratos geo minerais do planeta aos astros siderais, valorizando conco mutantemente o onirismo e o simbolismo, assim como numa psicologia (mas não analítica, à qual, como disse, somos quase radicalmente avessos), intuitiva e organicista do Desejo e da Paixão, levada até ao nível de uma animitismo incidente sobre as manifestações primárias da vida biológica.

15
Jun24

Um inocente e um mentiroso, de braço dado

Há com certeza ouras razões. Nem sempre fazemos jogo limpo. Pára de repente, gira sobre os calcanhares, e fita-me: olhos piscos, pálpebras quase a fechar-se. Achas que tentei enganar-te? Mais ou menos, embora sem quereres. Percebo. Um inocente e um mentiroso, de braço dado. Difícil distinguir o real por trás da encenação. Não foges (não fugimos) à regra.

in Finisterra (1978) de Carlos de Oliveira

14
Jun24

Falar sobre os homens é exactamente a mesma coisa que falar sobre mulheres

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Nascemos todos iguais.

A educação, a religião e a cultura é que nos fazem distinguir e nos afastam uns dos outros.

Falar sobre os homens é exactamente a mesma coisa que falar sobre mulheres. É indissociável. As mulheres têm rigorosamente as mesmas capacidades intelectuais, diferencia-as apenas a força física.

Há um panteísmo de homens e mulheres que não se pode ignorar: complementam-se. As mulheres têm tido um percurso dificílimo, quase insustentável, de afirmação, de independência, de autonomia. E continuam a ter, porque há religiões e culturas em que continua tudo rigorosamente na mesma, ou pior ainda.

O mito da costela de Adão é muitíssimo machista, não sei quem o inventou. Saíste da costela do Adão e portanto, minha amiga, serás sempre isso. Há aí uma distorção intencional. Não sei nada de religião, não fui educada religiosamente.

Cristina Carvalho

in Pública 22.08.10

14
Jun24

É porque, simplesmente, a vida é simples e fácil

Não há muito que fazer nesta época do ano aqui à volta de Uppsala. E não é por causa do tempo frio, nem por causa das poucas horas de luz do dia, nem por causa da noite gelada... É porque, simplesmente, a vida é simples e fácil. É até fácil demais. E é por isso mesmo que os novos, não tendo quase nada com que se ocupar, pretendem conhecer a cidade maior, a grande e próxima cidade de Estocolmo.

Ali sim, há mar, há casas muito altas, há padarias, há lojas de lenha e de carvão, há alfaiates pois há muita gente a vestir, há sapateiros pois há muita gente a calçar e há muitas outras profissões desconhecidas para a gente como nós que vem da província.

in O Gato de Uppsala (2009) de Cristina Carvalho

13
Jun24

Grande parte da poesia de Gedeão parte de um núcleo de transparência da intenção

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Grande parte da poesia de Gedeão parte de um núcleo de transparência da intenção (reflexo, talvez, do futuro optimismo dos cientistas em geral, que professam ter inventado o futuro da humanidade) a um escurecimento metafísico, como que a sugerir
que o pensamento poético deve finalmente amadurecer no sonho, e não no meridional da clareza do escrutínio científico.

O destino de um complexo ato cognitivo está, portanto, a ocorrer.

Excerto de An Introduction to the Poetry of António Gedeão

de Christopher Damien Auretta

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