Polémico e controverso à época - em 1889 - e ouso dizer, ainda hoje, A Sonata a Kreutzer é um diálogo no comboio entre dois passageiros, que mais parece um monólogo, em que abordam o casamento e as relações entre homem e mulher, de uma forma agreste, fria e desapaixonada. Todo este diálogo encerra em si as próprias opiniões de Tolstoi, desvendadas no posfácio deste livro, como se o autor criasse com ele uma cartilha sobre a arte de bem amar, a si próprio, aos outros e a Cristo.
Tenho de confessar que a leitura deste livro foi perturbadoramente obsessiva. Desde a primeira página fui levada para bem longe das ideias criadas e recriadas pelo mundo sobre a união de um homem e de uma mulher.
Neste livro tudo pode estar erradamente certo e tudo pode estar correctamente errado.
As Noites na Granja ao Pé de Dikanka reune os seguintes contos:
A Feira de Sorótchinets
Noite de São João
Noite de Maio ou a Afogada
A Carta Perdida
Noite de Natal
A Vingança Terrível
Ivan Fiodorovitch Chponka e a sua Tia
Um Lugar Embruxado
Sobre estes seus contos, escreve o próprio Gogol com a sua peculiar ironia:
Irra, coisa esquisita: "Noites na Granja ao Pé de Dikanka"! Que "Noites" são estas? Vejam só o que deitou ao mundo um abelheiro qualquer! Deus omnipotente! Como se fossem poucos os gansos depenados em prol da escrita e os trapos desbaratados para o fabrico de papel! Como se fosse pouca a gente de todas as classes e escumalhas a sujar os dedos de tinta! Agora também o abelheiro se lembrou de entrar na onda! Francamente, o papel impresso prolifera de tal modo que já não sabemos o que mais embrulhar com ele.
A caleche, pleno do humor absurdo gogoliano, que tal como a alma humana, mostra as suas melhores facetas no exterior, mas cujo interior se esconde na mais profunda escuridão.
Aleksandr Blok tornou-se o poeta da revolução ao escrever o poema Os Doze, um dos mais controversos da poesia russa, onde descreve doze soldados bolcheviques, comparando-os aos doze apóstolos, que avançavam pelas ruas de Petersburgo enquanto uma feroz tempestade de inverno se abate sobre eles.
Um crítico definiu Os Doze como “a maior manifestação do espírito russo desde Dostoiévski”. Sabem-no de cor na Rússia e é a soma poética da alma russa, contendo em cada verso a harmónica do operário, o órgão da Igreja, os tambores militares e a balalaika camponesa.
Blok sempre acreditou que a revolução conduziria a Rússia pela purificação, aniquilando o velho mundo.
Um dia decidiu contrariar a sua própria natureza, sendo honesto e dizendo a verdade, mas a sociedade não perdoa àqueles que se redimem, preferindo reprimir eternamente quem errou.
Polikuchka por saber que ninguém acreditaria na sua honestidade redentora, preferiu enforcar-se.
Não por se sentir mal pelos erros do passado, mas porque quis corrigi-los e a sociedade nunca o deixaria fazê-lo sem mácula.
Ah, o dinheiro! O dinheiro! Tantos pecados se lhe devem! disse Dutlov. Não há nada neste mundo que cause tantos pecados como o dinheiro.
Li algures que a maior fraqueza do ser humano é o querer.
O querer humano parece nunca ter fim. Como Pahóm, o agricultor desta história, que com toda a terra do mundo nas mãos, morreu à mercê deste seu querer obsessivo, que nunca ficaria saciado.
Com tanta terra que quis gananciosamente ter, foram precisos apenas sete palmos dela para o enterrar: “Portanto, de que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" - Marcos 8:36
Nascemos sem nada, partimos desta vida sem nada levar, a não ser, sete palmos de terra.
De tão pequena, é uma das raras histórias que Tolstoi narra com tal simplicidade, que revela uma grande e profunda verdade: a humildade da espiritualidade não vive nos ritos ostensivos, mas no mais profundo interior do ser humano.
O romancista russo era um homem profundamente espiritual e considerava como seu dever escrever literatura didáctica para educar e iluminar os seus leitores, revelando uma atitude moralista perante a vida. Depois de ler O Mundo como Vontade e Representação de Arthur Schopenhauer, que defende, entre outras coisas, que a renúncia ascética é o único caminho verdadeiro para a piedade, Tolstoi ficou fascinado com a criação de histórias sobre a pobreza sagrada, sendo Os Três Eremitas o auge da sua missão.
A mensagem moral de Tolstoi é bastante clara: o Bispo, que representa a Igreja Ortodoxa da Rússia (e, por extensão, todas as Igrejas Cristãs), com o seu ritual ostensivo e vazio, carece lamentavelmente de profundidade mística e da compreensão inata da humilde eremita, exemplificando assim que a transformação e transcendência verdadeiras, só podem vir de dentro do ser humano.
O drama desta história de amor é contado de forma tão leve que mal lhe sentimos a dor.
A dor cai como uma pena e, nós leitores, não sabemos se choramos ou sorrimos no último verso.
Tal como no amor.
(...) Pushkin, tanto nos gestos como no estilo, guardava ainda hábitos aristocráticos e acreditava na hierarquia dos géneros. Precisamente por isso a violava. Nunca teria escrito Eugénio Onéguin se não soubesse que não se podia escrever assim. Os seus prosaísmos, a descrição do quotidiano, as trivialidades, a fala popular construíam-se, em grande parte, como uma técnica proibida, destinada a escandalizar o público.
Andrei Siniávski, crítico literário russo, no seu livro Passeios com Pushkin
in Introdução por Nina e Filipe Guerra in Eugénio Onéguin de Aleksandr Pushkin, Relógio d'Água Editores