O conceito de auto-ajuda como o conhecemos hoje surgiu com a vida moderna, mas nos seus primórdios começou ao contrário.
O desenvolvimento pessoal raramente era iniciado pelo próprio, mas imposto pela sociedade ou outra qualquer autoridade, através de códigos de conduta, de etiqueta e de moralidade.
Foi em 1859 que o conceito de auto-ajuda se começou a propagar, através de um livro escrito por Samuel Smiles: Self-Help.
O livro foi um sucesso, porque não era um mero livro de etiqueta com uma lista de códigos para serem aprendidos. Aliás, o livro não ensinava nada, inspirava. Analisava as grandes conquistas de pessoas como Napoleão ou Sir Walter Scott, inspirando o mais comum dos mortais a alcançar a grandiosidade.
E era nesta particularidade do livro que residia toda a diferença, na inspiração e motivação dos leitores para alcançarem o seu melhor.
Entre os estudantes com alto grau de força de vontade era maior a probabilidade de obtenção de altas classificações e de admissão em escolas mais selectivas. Registavam menos faltas, gastavam menos tempo a ver televisão e mais tempo com trabalhos de casa.
«Os adolescentes com alto grau de auto-disciplina ultrapassavam os seus pares mais impulsivos em toda e cada variável do desempenho académico», escreveram os investigadores.
«A auto-disciplina era melhor enquanto indicador do desempenho académico do que o QI. Era também um bom indicador sobre quais os estudantes que subiriam as notas ao longo do ano lectivo, enquanto o QI não... A auto-disciplina tem um efeito maior sobre o desempenho escolar do que o talento intelectual.»
Os investigadores não lhes tinham recomendado nenhum desses comportamentos. Tinham-lhes pedido, simplesmente, que apontassem aquilo que comiam pelo menos um vez por semana.
Mas o hábito-chave - o diário alimentar - criou uma estrutura que contribuiu para o florescimento de outros hábitos. Passados seis meses, as pessoas que mantinham diários de alimentação tinham perdido o dobro do peso em relação aos restantes.
Como uma boa cobaia delineei um protocolo laboratorial para aniquilar o meu mau hábito de roer as unhas, seguindo as instruções d' A Força do Hábito de Charles Duhigg:
#1 Identificar o hábito a eliminar, perceber o porquê dele existir e em que circunstâncias ele aparece
Pois bem, vamos a isto. Chegou o momento de levar isto a sério.
O apocalipse vai chegar às minhas unhas e quiçá deixarei de ter unhas de campónia. Não sei muito bem o porquê de ter começado a roer as unhas, mas após uma investigação aprofundada percebi que acontece quando estou desocupada, por exemplo numa sala de espera ou num transporte público, ou quando fico nervosa por mais uma cabeça cortada no Game of Thrones.
Enquanto aprecio a paisagem, o tempo que passa e mais uma cabeça cortada, poderia estar a bebericar um cocktail delicioso. Mas não! Começo imediatamente a aparar as unhas, qual roedor inveterado, poupando uns tostões na manicure. Aliás, esta é que é a verdadeira manicure ao natural.
Depois de descobrir tudo isto, delineei um plano para substituir este mau hábito.
#2 Substituir o hábito a eliminar
Há que substituir o hábito mau por um hábito bom que me dê a mesma satisfação que o primeiro. No meu caso roer as unhas acalma-me e a manicure fica feita em três segundos. Nunca fui mulher de unhas longas, portanto não será por elas que descobrirão a bruxa que há em mim.
Comecei a pensar nas opções que tinha.
Cortar as mãos não era uma opção viável - o Game of Thrones está a afectar-me -, pôr os dedos no nariz como acto protector das unhas também não era viável, restando poucas possibilidades realistas:
Os investigadores constataram que a substituição de hábitos funcionava bastante bem para a generalidade das pessoas, a menos que surjam situações mais stressantes.
Decidi ser o cão de Pavlov e iniciar esta minha experiência sobre a substituição de um mau hábito, unindo esforços com o meu mestre - este livro de auto-punição - que ao longo de 426 páginas repete a mesma lengalenga ad infinitum, sem acrescentar nada de novo.
Como uma boa cobaia delineei um protocolo laboratorial para aniquilar maus hábitos. A maioria deles em privado, revelando apenas um: roer as unhas.
Não me recordo bem do momento exacto em que me transformei num hamster, mas sei que desde a infância que ando a afiar os dentes nas minhas unhas sem qualquer explicação racional que não seja a de me transformar num potencial predador de gomas.
E as técnicas põem a nu um dos princípios fundamentais dos hábitos: que muitas vezes não identificamos realmente os anseios que desencadeiam os comportamentos, ao menos até nos decidirmos a identificá-los.
A mudança genuína exige esforço e uma tomada de consciência sobre que anseios desencadeiam que comportamentos. A mudança de qualquer hábito exige determinação.