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Livrologia

Livrologia

11
Set23

A ti acudo, Arte da Poesia

O envelhecimento do meu corpo e do meu rosto

é ferida de faca horrível.

De nenhum modo consigo ser imperturbável.

A ti acudo, Arte da Poesia,

que sabes alguma coisa de remédios;

tentativas de entorpecer o padecimento, em Imaginação e em Verbo.

 

É ferida de faca horrível. -

Os teus remédios traz, Arte da Poesia,

que fazem - por um pouco - que não se sinta a ferida.

Poema Melancolia de Jasão de Cleandro; Poeta na Comagena ; 595 d. C.

in Os Poemas de Konstantinos Kavafis

07
Set23

Fado inglório para alguém que toca tão fundo

cavafy.png

De Kaváfis também só os sábios pareciam ter entrevisto o seu talento em vida, já que Kaváfis, que há muitos anos não visitava a Grécia e passara toda a sua vida trabalhando no Ministério Egípcio das Obras Públicas, morreu de cancro da laringe em 1933, aos setenta anos, com a sua reputação enquanto poeta ainda obscura, partilhando o caminho de tantos outros que só na posteridade alcançaram o relevo que teriam certamente gostado de ter em vida.

Fado inglório para alguém que toca tão fundo.

in O efémero da beleza e a evocação da memória na poesia de Konstantinos Kaváfis 

de Joaquim Miguel Fernandes Duarte 

in Comunidade, Cultura e Arte

07
Set23

A sua origem

O cumprimento do seu prazer à margem da lei

teve lugar. Levantaram-se do colchão

e sem falarem vestem-se apressados.

Saem da casa separadamente, às escondidas; e enquanto

caminham algo preocupados pela rua, parece

que suspeitam de que neles qualquer coisa revela

em que género de leito caíram há pouco.

 

Mas como ganhou a vida do artífice.

Amanhã, depois de amanhã, ou com o tempo serão dados

à escrita os fortes versos que tiveram aqui a sua origem.

Poema A sua origem

in Os Poemas de Konstantinos Kavafis

03
Set23

A poesia de Kaváfis é sempre uma de distanciamento e evocação

cavafy.png

Abertamente homossexual, Kaváfis aborda com despudor a paixão. Mas é uma paixão que vive do efémero (...)

A poesia de Kaváfis é sempre uma de distanciamento e evocação, um olhar sobre a juventude a partir da velhice, um foco nos detalhes que a memória reteve, um olhar para o passado tanto quando os poemas tratam a intimidade como quando pegam na antiguidade clássica.

Aí vemos o outro lado de Kaváfis, o do poeta-historiador, debruçando-se sempre sobre períodos históricos de declínio ou decadência, onde, podendo até estar a festejar-se um feito de grandeza, está subjacente a decadência por vir. É o lado trágico da vida que Kaváfis nos traz através dos episódios que faz ressoar pelo tempo. 

in O efémero da beleza e a evocação da memória na poesia de Konstantinos Kaváfis 

de Joaquim Miguel Fernandes Duarte 

in Comunidade, Cultura e Arte

03
Set23

Muros

Sem circunspecção, sem mágoa, sem pejo

grandes e altos em redor de mim construiram muros.

 

E fico e desespero agora no que vejo.

Não penso noutra coisa: na minha mente esta sina rasga furos;

 

porque tantas coisas havia a fazer lá fora por ti.

Quando construíam os muros como é que não reparei, ah.

 

Mas nunca o estrondo de pedreiros ou som ouvi.

Imperceptivelmente cerraram-me do mundo que está lá.

Poema Muros

in Os Poemas de Konstantinos Kavafis

30
Ago23

Alexandria é musa do poeta

cavafy.png

À época não era vulgar nem o estilo, nem os temas sobre os quais Kaváfis se debruçou nas várias facetas que exibe ao longo destes 145 poemas, mais não fosse pelo seu carácter homossexual abertamente assumido, ainda que seja importante relembrar que a intimidade do que escrevia era dirigida para o seu círculo de amigos mais próximos; pouco mais gente a eles tinha acesso.

Como já referido, junto aos efebos, Alexandria é musa do poeta, sendo impossível distanciá-lo tanto da cidade como do mundo helénico, das influências da cultura e civilização grega em praticamente tudo o que nos rodeia.

Nos seus poemas vemos as grandes batalhas de Esparta, ou de Alexandre, o Grande, tal como, ao mesmo tempo, não podemos deixar de ver a perfeição da estatuária helénica, com inúmeras referências não só à escultura grega como à perfeição estética a ela associada.

in O efémero da beleza e a evocação da memória na poesia de Konstantinos Kaváfis 

de Joaquim Miguel Fernandes Duarte 

in Comunidade, Cultura e Arte

30
Ago23

Um Velho

No café no lugar de dentro na zoeira turva

senta-se um velho na mesa se curva;

com um jornal diante dele, sem companhia.

 

E nos desdém da velhice miserável

pensa como usou tão pouco o tempo deleitável

em que força, e eloquência, e beleza possuía.

 

Sabe que envelheceu muito; sente-o, é visível.

E contudo o tempo em que era novo ao mesmo nível

do de ontem. Que espaço apressado, que espaço apressado.

 

E considera como burlava dele a Prudência;

e como nela tinha confiança sempre - que demência! - 

a perjura que dizia: «Amanhã. O tempo é demorado.»

 

Lembra-se de impulsos a que punha freio; e sem medida

a alegria que sacrificava. Cada história perdida

agora troça da sua desmiolada sageza.

 

...Mas do muito que foi pensando e não esquece

o velho atordoou-se. E adormece

no café apoiado sobre a mesa.

Poema Um Velho

in Os Poemas de Konstantinos Kavafis

26
Ago23

Uma poesia que diversas vezes se move pelos domínios da prosa, parca em floreados e metáforas

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Sendo uma poesia que diversas vezes se move pelos domínios da prosa, parca em floreados e metáforas, torna-se muito fácil cair na tentação de a considerar de fácil tradução, independentemente das diferenças entre o português e o grego.

Mas, mesmo com um recurso à rima muito pouco frequente, essa mesma escassez acaba por atribuir aos poemas um ritmo muito particular, com constantes variações de métrica e de cadência, até pelos poemas em que usa o seu “tango”, como lhe apelidou o também poeta Giórgos Seféris, uma composição onde, como explica Manuel Resende no prefácio, “o verso é partido a meio (facto assinalado por um espaço em branco maior no hemistíquio) sendo ambas as metades fortemente ritmadas por três tempos fortes.

in O efémero da beleza e a evocação da memória na poesia de Konstantinos Kaváfis 

de Joaquim Miguel Fernandes Duarte 

in Comunidade, Cultura e Arte

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