Ilustração criada por William Faulkner para Primeiro Dia de Maio
William Faulkner escreveu, ilustrou e encadernou o pequeno manuscrito a que deu o nome de Primeiro Dia de Maio. Datou-o de 27 de Janeiro de 1926, dedicou-o a Helen Baird e ofereceu-lhe a única cópia conhecida.
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Primeiro Dia de Maio, além de ser o opúsculo manuscrito mais directamente relacionado com a obra-prima de Faulkner, é, na minha opinião, único, de uma forma adicional se bem que menor.
Alguns dos outros opúsculos contêm, como já foi mencionado, desenhos de Faulkner a tinta preta, nomeadamente os que aparecem ao longo de Marionettes, mas as três aguarelas ao tamanho da página em Primeiro Dia de Maio, tornam-no o único opúsculo de Faulkner conhecido, e ainda existente em boas condições, com ilustrações a cores.
Carvel Collin in Introdução de Primeiro Dia de Maio de William Faulkner
«Qualquer que escolheis, ambas as princesas podem bem lançar um genro em qualquer negócio que ele deseje.»
«Ah, não sei», diz o jovem Sir Galwyn. «Como posso saber qual destas donzelas é aquela que vi no sonho? Quem mo poderá dizer, visto que vós admitis não o poder? Embora lamente que estas duas princesas padeçam no cativeiro, não posso desperdiçar a minha juventude, procurando por aí, libertando donzelas cativas que tanto quanto sei são bem mais felizes no cativeiro do que em liberdade e que me poderiam até considerar um intruso, já que devo procurar aquela que me faz lembrar o mel e a luz do sol.»
Faulkner conhece Helen Baird em Nova Orleães e passa com ela o Verão de 1925 na praia de Pascagoula, Mississípi.
Faulkner fica completamente rendido a esta mulher jovem, mundana, céptica e indomável, apaixonando-se perdidamente por ela.
Escreve-lhe um pequeno manuscrito de sonetos que intitula Helen: a Courtship.
O poema introdutório dos sonetos que escreveu para Helen Baird em Helen: a Courtship @ deepblue.lib.umich.edu
Em 1926 escreve-lhe Mayday (Primeiro Dia de Maio), uma alegoria medieval sobre o cavaleiro Sir Galwyn de Arthgyl, que se encontra numa busca fútil pelo amor, busca essa que acaba na sua própria morte.
Faulkner pede Helen em casamento, mas ela recusa. Apesar de gostar dele como o boémio excêntrico que era e partilharem a mesma paixão pela literatura, Helen nunca o considerou como um pretendente sério.
Tradução livre de excerto incluso em William Faulkner: Lives and Legacies por Carolyn Porter
«Será que esta floresta aqui,» diz o jovem Sir Galwyn, «se encontra tão repleta de princesas cativas que não me podeis dizer qual a que procuro?»
«Bom, não vos estou a sugerir que cada torre que possais ver oculte uma virgem a suspirar, tocando alaúde e definhando à espera da sua libertação e de um matrimónio ilustre.»
William Faulkner em criança, New Albany, Mississippi
@ davidabramsbooks.blogspot.com
William Cuthbert Falkner (mais tarde adicionou o "u" à grafia do seu apelido) nasceu em New Albany a 25 de setembro de 1897.
Quando nasceu, Murry e Maud Falkner, moravam numa simples casa de madeira, a pouca distância do caminho de ferro.
Joseph Blotner, um dos biógrafos de Faulkner, revelou que no pico de calor de Setembro e Outubro, o bebé Faulkner mantinha a sua mãe acordada quase todas as noites.
Sentada na sua cadeira de baloiço, embalava-o pacientemente.
Apenas se ouvindo o ruído da cadeira a ecoar pela pequena casa de janelas sempre abertas.
Adaptado de williamfaulknerliterarycompetition.com
Ilustração criada por William Faulkner para Primeiro Dia de Maio
Então a Dor tocou-lhe e ele de novo olhou as águas. O rosto nas águas era o rosto de uma rapariga, e a Dor e a Fome estenderam-se pelos seus membros e por todo o seu corpo, fazendo-o arder como se tivesse sido tomado pelo fogo.
E, das águas escuras e agitadas, a rapariga para ele ergueu os seus braços brancos e ele teria partido na sua direcção se a Dor o não tivesse arrastado para um lado e a Fome o não tivesse arrastado para outro, não o deixando assim mover-se enquanto ela dele se afastava, mergulhando no rio escuro cheio de fragmentos agitados de som e cor.
Em breve, também estes se tornaram indistintos e, então, a água tornou-se, de novo, opaca e silenciosa e agitada, inundando o mundo à sua volta até que ele se encontrou só sobre o chão empedrado, num sombrio lugar, esperando o dia.
Desenho de William Faulkner @ www.brainpickings.org
O desenho e a pintura atraíram William Faulkner desde a infância.
Devido à sua determinação de se tornar artista, desde cedo encarou como carreiras possíveis ou as artes gráficas ou a escrita.
A sua mãe disse-me que, ainda muito jovem, tinha demonstrado não só um grande interesse em desenhar como algum talento.
Citou como exemplo, entre outras provas, um esboço que fizera em criança quando a cidade de Oxford tinha começado a utilizar um camião cisterna para limpeza das ruas. Voltara para casa excitadíssimo depois de ter observado o trabalho daquele equipamento sofisticado e estava ansioso por o descrever à família.
Quando compreendeu que a sua descrição era insuficiente, de imediato desenhou o camião com as suas válvulas e regadores, de uma forma tão detalhada que espantou a sua mãe.
Ela confessou-me ainda, que talvez o tivesse orientado demasiado na infância em relação ao desenho e à pintura quando, no entanto, o seu interesse principal veio a demonstrar-se ser a escrita.
Carvel Collin in Introdução de Primeiro Dia de Maio de William Faulkner