A escolha de uma voz é para criar um ténue distanciamento
Aquilo que verdadeiramente nos parece ser significativo no poeta grego é serem as personagens, nos seus poemas não directamente auto expressivos, antes do mais vozes íntimas, vindas da ruína, a do tempo, a do quotidiano, a do desejo, tentando atravessar essa ruína tantas vezes em incitação da própria voz autoral, através de sonhos fúteis de grandeza, de tensas paixões que sabem encaminhar-se para o arruinamento.
Contudo, todas essas vozes brilham, por muito que sejam baços, inglórios, derrotados os tempos e os momentos que procuravam a glória de um império, de um fim grandioso no perecimento, de um amor imenso tornado passageiro pelo destino.
Sempre a escolha de uma voz é para criar um ténue distanciamento, um envolvimento em presença indirecta, mas nunca pretende criar aravés desse processo uma autonomia de máscara; sempre reconhecemos a figura e o esquema interior que em toda a sua obra percebemos como seu, como interioridade ou como meditação suas.
in Prefácio de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis
in Os Poemas de Konstantinos Kavafis