A PIDE esteve em nossa casa revistando e levou todas as suas cartas
À crescente contestação e exigências de mudança, o Estado Novo responde com maior repressão e fortalecimento da capacidade de intervenção da PIDE através do decreto n.o 40550, que alarga o âmbito das «medidas provisórias de segurança». De então em diante a polícia política persegue, prende e tortura com impunidade reforçada.
Sophia, Francisco Sousa Tavares e muitos dos seus amigos passam a estar sob constante vigilância da Polícia Internacional e de Defesa do Estado.
Para os agentes, tudo era digno de registo. Desde os factos mais banais, como as pessoas recebidas em casa, até encontros públicos para apresentações de livros. Os telefonemas eram escutados, as entradas e saídas vigiadas e o correio interceptado. Em carta a Jorge de Sena, em 1962, Sophia lamenta-se: «A PIDE esteve em nossa casa revistando e levou todas as suas cartas.»
Também a poeta foi detida para ser interrogada pela polícia política, como confirmam os espólios depositados na Torre do Tombo.
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A oposição assumida pelo casal levaria a PIDE a prender Francisco Sousa Tavares por duas vezes, em 1966 e 1968.
Para prestar depoimento ou para dar apoio ao marido, Sophia conhecia bem as salas de interrogatório da Rua António Maria Cardoso e o caminho para a prisão de Caxias. As visitas, sempre intermediadas por um vidro, aconteciam na companhia de dois dos filhos de cada vez (os permitidos pelos serviços prisionais), às segundas-feiras. Mais do que uma experiência traumática, visitar um pai detido por se rebelar contra o regime que censurava a liberdade de expressão, impedia a democracia e torturava presos, era uma honra.
in Sophia de Mello Breyner Andresen de Isabel Nery