A poesia não inventa outro mundo
Lisboa, Setembro de 1976
(...) Pode parecer que estou a misturar indevidamente poesia e vida.
Mas nenhum poeta escreve para fazer uma obra e nenhum poeta escreve para conquistar uma vida imortal, mas sim para conquistar a inteireza e a verdade da sua vida actual. (...) A poesia não inventa outro mundo. Mas procura a verdadeira vida. E por isso Jorge de Sena definiu a poesia como sendo «a fidelidade integral à responsabilidade de estar no mundo».
Por isso a sua poesia é uma poesia de resistência não apenas no sentido corrente e directamente político da palavra, mas uma poesia que resiste a tudo quanto deforma ou inverte ou desfigura a vida humana. (...)
Sophia
in Correspondência Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner 1959-1978
com organização de Mécia de Sena e Maria Andresen de Sousa Tavares