A vida de todos estava contagiando a vida de outros
Não conseguia coordenar ideias. Tudo me parecia sem sentido e sem nexo. Mas, ao mesmo tempo, tudo se encadeava e interpenetrava com uma lógica própria, semelhante ao contágio das doenças infecciosas.
Era como se um veneno, um miasma, um vírus peçonhento houvesse invadido a minha vida e a de todas as pessoas que me rodeavam, sem que, todavia, se pudesse saber onde estava o foco da infecção.
A vida de todos estava contagiando a vida de outros, mas eu não podia sequer dizer quando aquilo começara, desde quando, como uma nódoa alastrante, vinha sujando tudo e todos.
Parecia-me, por outro lado, que eu, sem querer, com um gesto, gesto inadvertido e mínimo, provocara e continuava provocando à minha volta uma confluência de catástrofes, que por sua vez desencadeavam outras.
in Sinais de Fogo de Jorge de Sena