A vida está cheia de maravilhas que todos os dias nos roubam
Lisboa, Outubro de 1966
Caríssimo Jorge
(...) E quando será possível estarmos de novo juntos? Não haverá, neste tempo de tantas viagens, um congresso que nos reúna?
O Francisco e eu estamos bem mas sempre afogados de problemas. A vida todos os dias sobe de preços, e as dificuldades multiplicam-se. Mas os nossos filhos crescem, o Verão foi um esplendor e o Outono tem sido um dos mais maravilhosos Outonos que vi na minha vida. O Francisco e eu vagueamos em grandes praias desertas, onde agora graças à ponte, se chega em meia hora. E também estivemos no Algarve, nas praias mitológicas da Ponta de Piedade. E no ano passado, como sabe, além de estarmos em Roma que adorámos, passámos os dois alguns dias maravilhosos em Paris, no Louvre, na Saint Chapelle, em Notre Dame e nos bares pitorescos onde nos levou o António Dacosta. Mas penso com desespero nisto: para as pessoas como você e como nós a vida está cheia de maravilhas que todos os dias nos roubam. (...)
Sophia
in Correspondência Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner 1959-1978
com organização de Mécia de Sena e Maria Andresen de Sousa Tavares