A vida na casa Andresen
A Quinta do Campo Alegre em 1937
@ Sophia de Mello Breyner Andresen de Isabel Nery
Mais uma vez, o conto «Saga» retrata com realismo a história da família Andresen, relatando uma casa que em tudo corresponde à do Campo Alegre.
Impedido de estabelecer comunicação com o pai, em Vig, a personagem Hans compreendeu que nunca regressaria à terra natal. Por isso, passados alguns meses comprou uma propriedade, que, do alto de uma pequena colina, descia até ao cais. «Entrava-se na quinta, pelo lado dos campos, por um portão de ferro que, depois de o passarmos, ao fechar -se batia pesadamente. Em frente, surgia a casa, enorme, desmedida, com altas janelas, largas portas e a ampla escadaria de granito, abrindo em leque. Na parte de trás, corria uma longa varanda debruçada sobre os roseirais do poente.»
É fácil imaginar que uma criança se perca aqui em histórias e contos mágicos. Mais a mais pensando que na altura, no início do século xx, não se ouviria o zunzum de fundo vindo dos carros a passar na auto estrada. Cada canto do jardim e da casa podiam ser o início de uma história. Assim houvesse imaginação. E em Sophia havia.
(...)
A vida no Campo Alegre, uma espécie de colónia, nas palavras de Ruben A.," com a exuberância dos seus jardins e os lagos que gelavam no inverno, era um oásis no Porto, que permitia às crianças da família uma sensação de liberdade absoluta, sem limites, protegidas dentro de muros. A quinta aliava natureza e liberdade," duas traves-mestras da obra- e vida de Sophia.
(...)
A vida social era intensa na Casa Andresen, sendo frequente a presença de escritores, pintores e músicos, além dos homens de negócios. Mas a maior festa do Campo Alegre era o Natal, permanecendo toda a vida a época favorita de Sophia.
(...)
O ambiente da quadra natalícia na Casa Andresen, entre as tradições nórdicas e os símbolos católicos, haveria de refletir-se em histórias infantis como A Noite de Natal e O Cavaleiro da Dinamarca, agregando no imaginário o passado e o presente da família.
in Sophia de Mello Breyner Andresen de Isabel Nery