A Voz do Profeta Exilado
Cansei-me de anunciar teu nome
às multidões desatinadas;
e, quando desdobrei teu rosto,
responderam-me com pedradas.
Deixei essas praias ferozes
de areias e alucinação.
Fui no meu barco de perigo,
de silêncio e de solidão.
Solucei nas rochas desertas,
equilibrei-me na onda brava.
Curvei de espanto a minha fronte:
e com as águas do mar chorava.
Chorei pelas gentes perdidas
de loucura e orgulho. Depois,
por minhas visões, por meus gestos.
E, finalmente, por nós dois.
Em que outros países, de que estranhos
mundos, alguém espera pela
minha voz, salva de martírios,
condutora da tua Estrela?
Diante dos horizontes próximos,
aflige-se o meu coração.
Não sei se é o tempo da chegada,
ou sempre o da navegação.
Antologia Poética - Cecília Meireles