Antes se diria que emanam de outro ser oculto no interior do doente
Pareceu-lhe então que qualquer coisa se abria de súbito na sua frente, uma luz interior de extraordinária claridade iluminou-lhe a alma. Talvez não durasse mais de meio segundo, mas o príncipe registou uma lembrança nítida e consciente do tom inicial do horrível grito que se lhe escapou do peito e que todas as suas forças teriam sido insuficientes para reprimir. Em seguida, a consciência extingui-se-lhe instantaneamente e achou-se mergulhado no seio das trevas.
Estava com um ataque de epilepsia, o que já há muito tempo lhe não sucedia. Sabe-se com que rapidez estes ataques se manifestam. Nesse momento, o rosto e sobretudo o olhar do paciente alteram-se de maneira tão rápida como incrível. Convulsões e movimentos espasmódicos contraem-lhe todo o corpo e os traços fisionómicos. Gemidos pavorosos, que não é possível imaginar nem comparar a nada, saem-lhe do peito, nada têm de humano, é difícil, senão impossível, supor, quando se ouvem, que são exalados pelo infeliz. Antes se diria que emanam de outro ser oculto no interior do doente. É assim, pelo menos, que muitos definem a sua impressão. Numerosas pessoas afirmam que a vista do epiléptico durante a crise produz um intraduzível efeito de terror.
Fiódor Dostoiévski-O Idiota