As mãos paralisadas deixavam cair molemente o giz e o apagador
Tristes as cenas em que a aluna, diante da pedra, o pau de giz na mão direita e o apagador na esquerda - numa chamada de Matemática, por exemplo - ficava paralisada a meio de terrível equação, sem conseguir progredir ao longo dos termos que conduziriam à solução. Virada de costas para a classe, o rosto fixo no quadro negro, os segundos a escoarem-se, e depois a voz da professora, entre paciente e irónica, repisadora: «Então? Vamos...»
De súbito, num agastamento nítido ou em desânimo aborrecido: «Pode-se sentar!»
As mãos paralisadas deixavam cair molemente o giz e o apagador no rebordo do quadro, e a paciente? ou a vítima? ou a culpada? regressava ao lugar na carteira, umas vezes lavada em lágrimas, outras conturbada, afogueada, a arrastar os pés ou, pelo contrário, a bater com eles no chão violentamente, num protesto contra a professora, a matemática ou a gramática, o liceu, os adultos.
in Memórias da Escola Antiga (1981) de Natália Nunes