06
Set24
Assim sou eu, o Sol, o melro, e tudo o mais
É assim como o melro da porteira
que canta enquanto escrevo.
Mas porque não havia de cantar o melro da porteira
se é seu dever cantar?
Cumpre o melro o seu fado, e eu cumpro o meu.
Estranho seria, sim, que fosse eu a cantar,
e ele, o melro, a escrever com a ponta do bico.
Mas se o melro escrevesse com a ponta do bico
e eu cantasse,
já não seria estranho,
seria simplesmente natural.
Assim sou eu, o Sol, o melro, e tudo o mais.
Tudo, conforme é, é natural,
e para tudo isso os sábios fazem leis
e os crentes pasmam da obra do Senhor.
Excerto de Poema de Ser Natural
Novos Poemas Póstumos 1990
in Obra Completa de António Gedeão