Balão Esvaziado
Cansei os braços
a pendurar estrelas no céu.
Destino dos fados lassos.
Tudo termina em cansaços
braços
e estrelas
e eu.
A vida flui (parece) como um novelo que se desenrola
como um leque silencioso que se abre,
enquanto, no ovo, um rumor se encaracola, se encaracola e desenrola,
até quando, num repente,
se dispara, incandescente,
como na dança do sabre.
Ó delírio de sentir,
doença de interrogar,
febre do nunca atingir!
Temperatura de partir
na esteira do insaciar.
Rescendem húmus as ancas,
terras morenas e brancas,
campo de jogo androceu.
Afrouxam os braços lassos.
Tudo termina em cansaços,
terras
e braços
e eu.
Estrelas, pântanos, abismos,
patamares da mesma escada,
dedos da mesma aliança.
Tudo morre em tédio e em nada.
Tudo maça.
Tudo enfada.
Tudo pesa.
Tudo cansa.
Poema Balão Esvaziado in Movimento Perpétuo 1956
in Obra Completa de António Gedeão