Clarice Lispector | Entre a melancolia e a desesperança
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Convivo com algumas (raras) pessoas que já leram Clarice, e outras que começaram a ler, depois de me ouvirem falar a respeito dela.
O que percebo, em todos os comentários, é que, até hoje, a imagem da escritora, a partir da obra dela, paira entre a melancolia e a desesperança, beirando à loucura.
Acredite se quiser, Clarice era impaciente, e, também por isso, costumava “furar filas”, na maior “cara-de-pau” mesmo, em cinemas, agências bancárias, ou aonde quer que fosse.
Quando retornou definitivamente ao Brasil, ela mesma tomava a iniciativa de recorrer a hospitais, pedindo para ser internada.
Vivia à base de tranquilizantes, os quais, certamente, não lhe tranquilizavam a alma.
Por outro lado, não demonstrava irresponsabilidade com os compromissos de casa: primeiro, a organização de almoços e jantares diplomáticos, ao lado do marido.
Com o nascimento dos filhos, sentiu-se insegura para cuidar deles sozinha, já que o marido (diplomata) viajava bastante. Apesar do “aperto” financeiro, o casal pagava “nurse” (enfermeira) para cuidar de Pedro e Paulo, inclusive educando-os.
Clarice nunca aprendeu a cozinhar, e, por isso, passou a vida inteira procurando uma “cozinheira de mão cheia”, como contava às irmãs, nas correspondências. Também, pouco envolveu-se na “criação” (educação) dos dois filhos.
Excerto de Desmitificando Clarice Lispector – O “meio do caminho”
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